Um relatório recente do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) reacendeu o debate sobre os limites entre liberdade religiosa e ambições da população LGBT+. O documento aponta que crenças religiosas tradicionais podem, em certos contextos, violar direitos humanos, o que gerou críticas de líderes cristãos brasileiros.
Pastores de diferentes denominações expressaram preocupação com o que consideram uma tentativa de silenciar convicções religiosas sob o argumento da diversidade. O historiador espanhol César Vidal classificou a abordagem da ONU como reflexo de uma “realidade anticristã” que, segundo ele, tem se consolidado em instituições internacionais. No Brasil, a reação foi semelhante entre vozes representativas do meio evangélico.
Declarações em defesa da fé cristã
Para o pastor batista Joarês Mendes de Freitas, da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi (Vitória, ES), o relatório representa um risco à compreensão plural da diversidade: “Não vejo como as crenças cristãs poderiam violar direitos de quem quer que seja. Os cristãos defendem seus princípios de fé e conduta, mas não os impõem a ninguém”, afirmou. Ele ressaltou que o cristianismo se baseia na adesão voluntária, não na coerção.
O pastor Bruno Polez, também da tradição batista, reforçou a crítica. “Dizer que desrespeitamos direitos é o mesmo que afirmar que somos contra a Palavra de Deus”, declarou. Em sua visão, há uma tentativa de impor às igrejas a aceitação de comportamentos que conflitam com os princípios bíblicos. Ele citou 1 João 4 para destacar que o amor cristão acolhe a todos, mas não relativiza a noção de pecado.
Liberdade religiosa
O pastor adventista Geraldo Moysés alertou para o risco de que a promoção da diversidade se transforme em instrumento de opressão contra a fé. “Quando a diversidade exige uniformidade de pensamento e deslegitima convicções religiosas milenares, deixa de ser inclusiva e torna-se opressiva”, afirmou, em entrevista à revista Comunhão.
Ele defendeu o direito de os cristãos viverem sua fé em todas as esferas da vida, mencionando o Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos como garantia fundamental.
Segundo Moysés, o direito à liberdade religiosa abrange mais do que o culto: inclui a expressão pública e o ensino da fé. “Esse direito precisa ser protegido”, concluiu.
Já o pastor Fábio Andrade, da Igreja Batista Resgate (Vitória, ES), defendeu cautela nas análises. “Não vejo perseguição religiosa no Brasil. Temos tensões, mas a liberdade de cultuar a Deus ainda está assegurada pela Constituição”, ponderou. No entanto, sugeriu uma reflexão interna: “A maneira como vivemos e pregamos nossa fé está produzindo dignidade para todos ou contribuindo para o sofrimento de alguns?”
Andrade também destacou a importância da responsabilidade social associada à liberdade. “Jesus nos ensinou: ‘Deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’ (Mateus 22:21). Nossa liberdade está segura, mas deve caminhar junto com a responsabilidade social”, afirmou.
Fé e democracia: compatíveis?
Os pastores consultados afirmaram que os valores cristãos podem coexistir com a diversidade em sociedades democráticas: “O cristianismo propõe, não impõe”, afirmou Geraldo Moysés, fazendo referência a Lucas 9:23. Ele defendeu o respeito à liberdade de todos os credos, desde que haja reciprocidade: “Se respeitamos o direito dos outros viverem seus valores, é justo que respeitem nosso direito de viver os valores do Reino de Deus”.
Bruno Polez chamou atenção para a necessidade de participação ativa dos cristãos nos espaços democráticos. “A democracia é feita pelo voto e pelo debate. As leis devem ser construídas com participação de todos os segmentos da sociedade”, disse. Ele enfatizou que o modelo teocrático não é o caminho, mas que os cristãos devem ter seus direitos igualmente garantidos.
Pressões culturais
Frente ao avanço de pautas ideológicas em instâncias internacionais, os líderes evangélicos reforçaram a missão da Igreja de manter-se fiel às Escrituras. “Ela deve ser um hospital para tratar pecadores que desejam ser curados”, afirmou Joarês Mendes, destacando o caráter acolhedor e restaurador do evangelho.
Geraldo Moysés também defendeu a formação de comunidades sólidas, preparadas para responder com firmeza e amor. “A Igreja é chamada a ser sal da terra e luz do mundo” (Mateus 5:13-16), afirmou, destacando o papel transformador da fé cristã na sociedade.
O pastor Fábio Andrade sintetizou a postura desejada com base em Gálatas 6:2: “Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo”. Para ele, o testemunho cristão deve ser marcado menos pelo volume dos discursos e mais pela proximidade com as pessoas.