Uma adolescente cristã do Paquistão afirmou ter sido sequestrada, convertida à força ao islamismo e mantida em cativeiro durante dois anos. O caso foi relatado por Muskan Liaqat, hoje com 15 anos, em entrevista concedida no final de junho.
Muskan disse que foi levada de casa durante a madrugada de 24 de maio de 2023, na cidade de Muridke, distrito de Sheikhupura, província de Punjab. Segundo o depoimento, os responsáveis foram Muhammad Adnan e seu pai, Muhammad Arif, que invadiram a residência armados enquanto sua família dormia.
“Eles me levaram para a casa deles, onde me torturaram e tiraram à força minhas impressões digitais em alguns papéis. Mais tarde, me disseram que eu havia me tornado muçulmana e que Adnan era meu marido”, declarou a jovem.
A adolescente pertence à igreja do Exército da Salvação. Segundo ela, após o sequestro, foi mantida em uma casa, submetida a agressões físicas e abusos sexuais. Muskan afirmou que era chamada com termos depreciativos e sofreu violência com uma barra de ferro.
“Ele me chamava de ‘Chuhri’ [termo pejorativo usado contra cristãos] e outros palavrões. Como resultado de abusos sexuais repetidos, engravidei em 2024”, relatou.
De acordo com seu testemunho, a gravidez foi interrompida no quarto mês devido a um episódio de agressão. Muskan afirmou que o sofrimento a levou a tentar o suicídio. Segundo ela, acreditava que a morte seria a única forma de escapar da situação.
“Eu me perguntava se minha família me aceitaria, mesmo se eu conseguisse fugir. Pensava que acabar com a vida era a única opção”, disse.
Tentativa de resgate
Em 26 de maio de 2024, Muskan conseguiu fazer uma ligação para sua irmã mais velha e informou sua localização. Segundo o relato, após essa comunicação, Adnan e o pai teriam ameaçado matá-la, caso denunciasse o ocorrido.
“Disseram-me para declarar ao tribunal que eu havia me convertido ao islamismo e me casado com Adnan por vontade própria. Cedi à pressão, embora quisesse voltar para meus pais”, afirmou.
Grupos de direitos humanos afirmam que esse tipo de caso é recorrente no Paquistão, especialmente contra meninas cristãs e hindus. Segundo essas organizações, as vítimas são forçadas a conversões religiosas e casamentos, seguidos de pressões para que registrem declarações em favor dos sequestradores.
Documentos de identidade e certidões de nascimento são frequentemente desconsiderados pelos tribunais. Em muitos casos, segundo os relatos, as vítimas acabam sendo reconhecidas legalmente como esposas dos sequestradores.
Após a tentativa da família de acionar a Justiça, Muskan relatou ter sofrido mais agressões. Segundo ela, Adnan usou uma barra de ferro para agredi-la, fraturando seu braço esquerdo.
A fuga ocorreu em 3 de junho, quando Muskan foi deixada sozinha em casa. Ela conseguiu escapar e entrar em contato com sua família. “Sou verdadeiramente grata a Deus por me resgatar e à minha família por confiar em mim”, disse ela.
Apoio jurídico e acolhimento
Com receio de que Adnan tentasse retomar a custódia da adolescente com base no casamento forçado, o pai de Muskan, Liaqat Masih, procurou a organização Christians’ True Spirit (CTS), que atua com apoio jurídico e abrigamento de mulheres cristãs.
A diretora executiva da CTS, Katherine Sapna, afirmou que os pais de Muskan tentaram registrar um boletim de ocorrência no momento do desaparecimento, em 2023. A solicitação não foi aceita pela delegacia local. “A família foi obrigada a buscar a filha por conta própria, sem sucesso”, disse Sapna.
Após o telefonema da jovem em 2024, a CTS entrou com um pedido de habeas corpus para recuperar a menor. A Justiça determinou que a polícia local apresentasse Muskan em tribunal. Durante a audiência, a adolescente declarou em favor dos acusados, o que a organização atribuiu a coerção. “Ficamos decepcionados com o depoimento, mas entendemos que ela foi forçada”, afirmou Sapna.
Depois da fuga em junho de 2025, a CTS transferiu Muskan para uma casa segura. Segundo a organização, ela apresenta sinais de trauma físico e psicológico: “Ela passou por situações extremas durante dois anos. Acreditamos que sua recuperação levará tempo, mas estamos confiantes de que será restaurada”, disse a diretora.
Processo criminal e contexto
A equipe jurídica da CTS deu início a um processo criminal contra Muhammad Adnan e seus cúmplices. A organização declarou que buscará responsabilização legal pelas acusações de sequestro, violência sexual e conversão forçada. “Não mediremos esforços para garantir que os envolvidos sejam processados e punidos”, declarou Sapna, conforme noticiado pelo Evangelical Focus.
Segundo informações da CTS, o pai de Muskan adoeceu após o sequestro e deixou de trabalhar como pedreiro. A família enfrenta dificuldades financeiras e está recebendo apoio jurídico, médico e psicológico.
O Paquistão tem cerca de 96% da população muçulmana. De acordo com a Lista Mundial da Perseguição 2025, publicada pela organização Portas Abertas, o país ocupa o 8º lugar entre os locais com maior hostilidade contra cristãos.
Relatórios de organizações internacionais apontam que casos de conversão forçada e casamentos de meninas cristãs com adultos muçulmanos ocorrem em diferentes regiões do país, especialmente na província de Punjab.