A guerra entre Irã e Israel agravou ainda mais a situação da igreja secreta no Irã, já marcada por décadas de repressão religiosa. Nos últimos dias, civis morreram em ambos os países após uma série de ataques, incluindo bombardeios israelenses a instalações nucleares.
O conflito gerou instabilidade em diversas cidades iranianas, especialmente na capital Teerã, onde moradores formaram longas filas em postos de gasolina e estradas na tentativa de fugir.
Em meio ao caos, líderes cristãos e membros da igreja secreta no Irã pedem orações e relatam episódios de sofrimento e medo. A Missão Portas Abertas informou que cristãos locais enfrentam risco dobrado: a insegurança causada pela guerra e a perseguição do regime islâmico.
“Uma família cristã em uma das principais cidades do Irã perdeu o pai. Ele havia enviado sua esposa e dois filhos pequenos para uma cidade mais segura, mas, ao se preparar para deixar a casa, uma explosão de bomba nas proximidades tirou sua vida. Sua família agora está tomada pela dor”, relatou o pastor Ali*, que lidera igrejas domésticas por meio de um ministério online.
Segundo Morteza*, um cristão iraniano, a vigilância do governo aumentou desde o início do conflito. “Em vez de proteger o povo, o governo iraniano agora está prendendo qualquer pessoa flagrada tirando ou compartilhando fotos e vídeos com a imprensa. Os cristãos são especialmente vulneráveis, pois correm o risco de serem acusados de espionagem e considerados ameaça à segurança nacional. Se sua fé for descoberta, as consequências são ainda piores. Por favor, nestes dias sombrios, seja uma voz pela igreja iraniana”, declarou ele à Portas Abertas.
A missionária Fereshteh* também descreveu o cenário de incerteza vivido pela população. “As pessoas estão abandonando suas casas e pertences, fugindo das grandes cidades sem saber se ou quando poderão voltar. Os preços dos alimentos dispararam, e muitos estão tentando estocar em caso de emergência. Em cidades menores, hotéis e pousadas estão lotando rapidamente”, relatou.
Entre o medo e a esperança
Apesar do temor e da tensão causados pelos ataques, líderes cristãos informam que parte da população iraniana recebeu os primeiros bombardeios israelenses com alívio. Muitos enxergam na guerra uma possível oportunidade de mudança no regime vigente desde 1979.
Lana Silk, diretora da organização cristã Transform Iran, afirmou que os iranianos estão cansados do autoritarismo religioso. “O povo do Irã há muito se sente preso sob um regime repressivo. Muitos acreditam que essa pode ser a única maneira de uma mudança real acontecer. Eles tentaram se levantar antes, mas esses esforços foram esmagados. Agora, eles estão perguntando se isso poderia finalmente ser o começo da liberdade”, disse ela.
Mona*, uma cristã iraniana, expressou o sentimento de parte da população. “O povo do Irã não quer guerra. Eles anseiam por paz. Mas o que pode ser feito quando o governo se recusa a renunciar e precisa ser removido por força externa? Nos últimos 47 anos, especialmente nos últimos anos, os iranianos foram às ruas em protesto, e milhares de jovens foram mortos por este regime. Talvez agora seja o momento em que o sangue deles trará mudança real e liberdade”, afirmou.
Igreja perseguida, mas crescente
Apesar da perseguição e do contexto de guerra, a igreja iraniana continua ativa e em expansão. O movimento cristão cresceu de forma significativa desde a Revolução Islâmica de 1979, que instaurou o regime teocrático xiita. Nos anos seguintes, o Irã expulsou missionários estrangeiros, proibiu o evangelismo, baniu a Bíblia em língua persa e perseguiu líderes religiosos.
Diversos pastores foram assassinados nas décadas seguintes, e a igreja foi forçada à clandestinidade. Ainda assim, o cristianismo se espalhou silenciosamente pelo país. De acordo com a organização GAMAAN, com sede na Holanda, havia cerca de 500 cristãos de origem muçulmana em 1979. Em 2024, esse número já ultrapassava 1 milhão.
A Sociedade Bíblica Iraniana estima que cerca de 2.000 iranianos estão se convertendo ao cristianismo por dia. Segundo a organização Portas Abertas, o Irã ocupa o 9º lugar na Lista Mundial da Perseguição 2025, ranking que avalia os países mais hostis aos cristãos.
Mesmo sob vigilância, prisões e repressão, cristãos iranianos continuam evangelizando, organizando igrejas domésticas e compartilhando a fé com familiares e vizinhos. “A igreja iraniana ficou sob enorme pressão. Muitos temiam que ela murchasse e morresse. Mas exatamente o oposto aconteceu”, afirmou um relatório da Portas Abertas.
*Nomes alterados por razões de segurança.