Entre janeiro e maio deste ano, ao menos 313 incidentes de violência contra cristãos foram registrados na Índia, de acordo com números divulgados pelo United Christian Forum (UCF), organização interdenominacional com sede em Nova Déli. A média equivale a pouco mais de dois ataques por dia.
Os dados foram coletados na base das ligações recebidas por uma linha de ajuda gratuita operada pelo grupo. As informações foram publicadas pela Union of Catholic Asian News em 24 de junho.
Segundo dados do próprio UCF, a violência contra cristãos tem crescido de forma contínua ao longo da última década. Em 2022, foram registrados 601 casos. Em 2023, o número aumentou para 734. Em 2025, apenas nos cinco primeiros meses do ano, já somam 313 episódios, com projeção de ultrapassar os números anteriores. No ano de 2024, o estado mais afetado foi Uttar Pradesh, com 209 casos, seguido por Chhattisgarh, com 165.
AC Michael, coordenador nacional do UCF e ex-membro da Comissão de Minorias de Déli, afirmou que os incidentes envolvem “ódio viral, violência brutal de multidões e ostracismo social desenfreado”. Em declarações ao UCA News, ele destacou que Uttar Pradesh e Chhattisgarh concentram os episódios mais graves.
Somente até o final de maio, Chhattisgarh já contabilizava 64 ocorrências de violência contra cristãos, enquanto Uttar Pradesh vinha logo atrás, com 58. Segundo Michael, o cenário tem gerado medo entre os cristãos indianos, muitos dos quais evitam registrar queixas por receio de retaliações.
A ativista cristã Minakshi Singh, residente em Uttar Pradesh, disse que boa parte das agressões está relacionada a acusações de conversões religiosas forçadas. “Em 2022, a Suprema Corte da Índia solicitou relatórios sobre conversões forçadas dos governos federal e estadual, mas até hoje, nenhum governo foi capaz de fornecer provas documentais”, declarou Singh.
De acordo com a legislação vigente, doze dos 28 estados indianos possuem leis que restringem conversões religiosas. A maioria desses estados é administrada pelo Bharatiya Janata Party (BJP), partido nacionalista hindu. Entidades cristãs alegam que tais leis têm sido utilizadas por grupos nacionalistas para justificar ataques e constranger comunidades religiosas minoritárias.
Michael alertou para o impacto crescente da hostilidade contra os cristãos no país. “Se essa tendência não for interrompida imediatamente, ela ameaçará a identidade e a existência da comunidade cristã indiana em sua terra natal”, afirmou. Ele acrescentou que o sistema jurídico e judicial da Índia não tem fornecido a devida proteção às minorias religiosas.
O UCF afirma manter um registro sistemático das denúncias recebidas por meio de sua linha direta e redes de contato. Desde 2014 — ano em que o BJP assumiu o governo central da Índia — os números vêm crescendo anualmente, com 127 casos registrados naquele ano.
Em dezembro, Michael solicitou ao governo indiano a nomeação de um secretário especial para investigar o aumento nos casos de perseguição religiosa. Segundo ele, essa medida seria essencial para conter a escalada da violência, de acordo com informações do The Christian Post.
Os cristãos representam 2,3% da população indiana, de acordo com o censo nacional realizado em 2011. O United Christian Forum alega que a minoria enfrenta crescente hostilidade nos últimos anos, especialmente em razão de leis anticonversão e de narrativas difundidas por grupos ligados ao nacionalismo hindu.
Entre os casos mais recentes, o Morning Star News relatou que, em março, cristãos foram presos após uma igreja ser atacada em Raipur, capital de Chhattisgarh. Segundo a denúncia, dezenas de hindus radicais invadiram o local e cortaram o fornecimento de energia elétrica. Rajesh Sharma, um dos cristãos detidos, afirmou que teve seu pedido de fiança antecipada rejeitado em duas instâncias judiciais estaduais.