Uma mulher cristã foi expulsa de casa e passou a receber ameaças de morte após familiares descobrirem sua conversão ao cristianismo na vila de Jamaame, em Kismayo, no sul da Somália. Por razões de segurança, a identidade da mulher não foi revelada.
Segundo o relato, a cristã, mãe de três filhos com idades entre 5 e 9 anos, afirmou: “Não me arrependo de ter abraçado o cristianismo; sinto muita paz no coração”. Ela acrescentou que “Jesus tem sustentado a mim e às crianças nos últimos três meses, e sei que Ele continuará sustentando”.
O processo de conversão teve início após ela assistir ao filme Jesus com seus filhos, em 24 de dezembro, acompanhada por um cristão local. No dia 20 de janeiro, ela decidiu entregar sua vida a Cristo: “Desde então, experimentei uma paz incrível em meu coração e em minha vida”, afirmou.
Na tentativa de compartilhar sua nova fé, ela exibiu o filme aos pais durante o mês do Ramadã. Após comentar sobre o sofrimento de Jesus na cruz, seu pai reagiu negativamente, afirmando: “O filme é enganoso e não é de Deus — é produzido pelo Diabo”. Em seguida, ele disse: “Não tenho mais espaço para você na minha casa. Vá embora com seus filhos”.
O pai entrou em contato com o genro, que apoiou a decisão. Segundo o relato, o marido, de 31 anos, deu-lhe um prazo de três meses para renunciar à fé cristã e retornar ao islamismo: “Minha mãe tentou intervir, mas meu pai ficou ainda mais furioso e nos expulsou. Depois de um mês, minha mãe renunciou à fé cristã e voltou para ele”, contou.
Em 10 de junho, o marido formalizou o divórcio. Após esse episódio, ela começou a receber mensagens ameaçadoras de dois parentes. “Disseram que seria melhor que eu estivesse morta do que me tornar cristã, pois me tornei uma apóstata e deveria ser morta”, declarou.
No dia 13 de junho, ela fugiu com os filhos para uma área próxima da fronteira com o Quênia. Desde então, tem se deslocado entre diferentes aldeias em busca de abrigo e trabalho. “Meu pedido de oração é para que Cristo, que mudou minha vida, também possa tocar minha família”, disse. “Se Deus me guiar para chegar ao Quênia, tenho certeza de que minhas necessidades e as das crianças serão atendidas por cristãos que vivem em diferentes partes do mundo”, concluiu, de acordo com o Morning Star News.
Contexto legal e social
A Somália é um dos países mais hostis à fé cristã. A Constituição estabelece o islamismo como religião oficial do Estado e proíbe a divulgação de outras crenças. Todas as leis devem estar em conformidade com a sharia (lei islâmica), inclusive para não muçulmanos, conforme aponta o Departamento de Estado dos Estados Unidos.
A sharia prevê a pena de morte para casos de apostasia — abandono da fé islâmica — segundo interpretação de escolas tradicionais da jurisprudência islâmica. Um dos grupos que aplica essa doutrina é o Al Shabaab, organização extremista ligada à Al-Qaeda, responsável por perseguições religiosas e ataques terroristas na Somália e no norte do Quênia.
Desde 2011, o Al Shabaab tem sido apontado como autor de assassinatos de cristãos e estrangeiros na região fronteiriça do Quênia, em retaliação à intervenção militar queniana contra o grupo.
A Somália ocupa a 2ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2025, publicada pela Missão Portas Abertas, sendo considerada uma das nações mais perigosas para cristãos.