O governo do Irã deu início à implementação das chamadas “clínicas de hijab”, centros voltados à promoção do uso obrigatório do véu islâmico entre mulheres, o que representa um obstáculo para as cristãs que vivem no país.
Segundo autoridades locais, esses espaços oferecem aconselhamento psicológico, oficinas e sessões de reeducação com o objetivo de reforçar a importância do hijab como parte da identidade pessoal e social feminina.
De acordo com representantes do governo, as clínicas são apresentadas como alternativa às punições legais e financeiras aplicadas a mulheres consideradas em desacordo com o código de vestimenta.
A medida ocorre em continuidade a políticas reforçadas desde o caso de Mahsa Amini, jovem morta sob custódia policial em setembro de 2022, após ser detida por suposta violação das regras de vestimenta, segundo informações da Missão Portas Abertas.
Críticos da iniciativa alegam que os centros utilizam pressão psicológica para impor diretrizes estatais e reduzir a expressão de pessoas que discordam.
A introdução das clínicas integra o plano nacional denominado Noor, que visa promover a modéstia pública. Desde sua adoção, observou-se o aumento de prisões, punições públicas e relatos de impactos negativos à saúde mental de mulheres e jovens.
Entre os casos registrados, duas adolescentes morreram em circunstâncias associadas à pressão social e disciplinar. Arezo Khavari, estudante afegã de 16 anos residente em Teerã, e Ainaz Karimi, de 17 anos, tiraram a própria vida em 2024. Segundo familiares, Ainaz havia sido suspensa da escola por motivos relacionados à estética pessoal — uso de esmalte e design de sobrancelhas — e se enforcou durante o período de afastamento.
Prisão de cristãos convertidos
Paralelamente às ações voltadas ao controle do comportamento feminino, continuam ocorrendo detenções de cristãos de origem muçulmana em diferentes regiões do Irã.
Em 5 de novembro de 2024, o Tribunal Revolucionário da cidade de Karaj condenou Toomaj Aryan-Kia a dez anos de prisão. A sentença foi fundamentada nas acusações de “propagação do cristianismo” e “colaboração com governos hostis”.
Organizações internacionais de direitos humanos relataram que Toomaj é um entre ao menos seis cristãos convertidos que receberam sentenças iguais ou superiores a dez anos apenas em 2024.
Em outro caso, os cristãos Jahangir Alikhani, Hamed Malamiri e Gholam Eshaghi permanecem detidos desde setembro em local não divulgado. As prisões ocorreram na cidade de Nowshahr, norte do Irã, conduzidas por agentes da inteligência iraniana. Os três já haviam sido presos durante o período do Natal de 2023, e agora enfrentam acusações semelhantes às de Toomaj.
Familiares dos detidos relataram à imprensa e a organizações de direitos humanos episódios de intimidação, ameaças verbais e agressões físicas durante os interrogatórios. Não há, até o momento, informações oficiais sobre o estado de saúde ou a situação jurídica atual dos três indivíduos.
A continuidade das detenções e o uso recorrente de acusações relacionadas à segurança nacional têm sido apontados por observadores internacionais como parte de um padrão de repressão a práticas religiosas não sancionadas pelo Estado, conforme relatado pela Portas Abertas.