A organização missionária Jovens Com Uma Missão (JOCUM), declarou estar “profundamente arrependida” após a publicação de uma reportagem que reuniu relatos de ex-integrantes sobre episódios de abuso espiritual, controle excessivo e práticas coercitivas em treinamentos da instituição.
O material jornalístico publicado pelo jornal britânico The Observer no domingo, 06 de abril, foi baseado em depoimentos de 21 ex-missionários e membros atuais, com experiências acumuladas ao longo de 20 anos em 18 países.
Entre os relatos, destacam-se pressões psicológicas, sessões públicas de confissão, práticas de “cura” espiritual e controle de condutas pessoais.
Uma ex-integrante da entidade conhecida internacionalmente como Youth With A Mission (YWAM) afirmou que o treinamento de liderança pelo qual passou foi “bastante controlador” e mencionou ter sido desestimulada a comparecer ao funeral de sua avó porque a cerimônia coincidia com um culto.
Outros entrevistados disseram ter participado de sessões públicas de arrependimento, onde eram levados a confessar “pecados” ou pensamentos considerados imorais, como atividade sexual fora do casamento heterossexual ou pensamentos homossexuais.
“Nós ‘expulsamos’ todos os demônios e pecados e pedimos a Deus que os perdoasse e os curasse novamente”, afirmou um ex-missionário à reportagem. As chamadas “noites do testemunho” foram descritas por alguns como catárticas, enquanto outros relataram terem se sentido pressionados a expor pensamentos íntimos em público.
Houve ainda menções a episódios de vergonha induzida, especialmente em relação ao uso de aplicativos de namoro cristão ou ao vestuário feminino. De acordo com os relatos, tais comportamentos eram frequentemente repreendidos por líderes da organização, gerando sentimento de culpa e exclusão.
Em resposta oficial à publicação, a JOCUM afirmou:
“Lamentamos profundamente qualquer um que tenha sofrido danos enquanto fazia parte da YWAM. Ninguém deve sofrer abuso espiritual, coerção ou sofrimento psicológico em uma comunidade baseada na fé”.
A organização declarou repudiar “práticas coercitivas ou humilhantes de grupo”, incluindo sessões de confissão pública. Segundo a nota:
“Embora a confissão pessoal seja parte da prática cristã, ela deve ser sempre voluntária e respeitosa. Qualquer prática que pressione indivíduos a revelar traumas ou envergonhá-los publicamente é errada”.
De acordo com o The Christian Post, a JOCUM também afirmou não tolerar rituais de cura que “prejudiquem ou estigmatizem” e disse que esses não têm lugar na atuação da JOCUM Inglaterra.
“Estamos tristes com os relatos de indivíduos que sentiram que sua identidade foi tratada como pecaminosa ou demoníaca, e estamos revisando como nossos ensinamentos são expressos para garantir que reflitam compaixão, verdade e amor”, concluiu o comunicado.
Fundada em 1960, a JOCUM é uma das maiores organizações missionárias evangélicas do mundo, com presença em mais de 180 países e foco em treinamento de jovens, evangelismo e ações humanitárias.