Líderes religiosos e ativistas no Paquistão elogiaram a produção da série Tan Man Neel o Neel, exibida pela Hum TV, por retratar com realismo a violência resultante das leis de blasfêmia no país.
A abordagem, considerada sem precedentes na televisão paquistanesa, colocou em evidência a forma como falsas acusações podem desencadear linchamentos públicos.
O episódio final da série mostrou uma cena impactante: um dançarino, Sonu (interpretado por Shuja Asad), é falsamente acusado de profanar uma mesquita após um vídeo manipulado ser exibido durante um casamento.
O acusador, Kami (Muhammad Usman Javed), e seus cúmplices planejam o ataque, cientes de que a multidão reagirá antes de verificar os fatos. A sequência culmina em um linchamento público, representado com forte carga dramática e uma trilha sonora melancólica.
O advogado e ativista cristão Lazar Allah Rakha afirmou que o drama serve como um “lembrete alarmante dos perigos do extremismo religioso e da desinformação”. Ele também destacou a inclusão, nos créditos finais, de imagens de vítimas reais de falsas acusações de blasfêmia e da destruição de igrejas e casas de cristãos. “A equipe do drama arriscou suas vidas para passar essa mensagem”, declarou.
O bispo Azad Marshall, moderador da Igreja do Paquistão, ressaltou a relevância da série para a sociedade: “Esse drama retrata a realidade paquistanesa. Espero que o público apoie produções que abordem problemas reais, em vez de reforçar expectativas irreais”, disse.
O legislador cristão Ejaz Augustine sugeriu que o drama fosse utilizado como ferramenta educacional para conscientizar a população sobre os impactos de acusações infundadas. “Esse conteúdo deve ser amplamente exibido para sensibilizar nosso povo”, afirmou.
Nos últimos anos, o Paquistão registrou um aumento no número de acusações de “blasfêmia online“, muitas vezes apresentadas por grupos privados. Em maio de 2024, Nazeer Masih Gill, cristão acusado de queimar páginas do Alcorão, morreu após ser espancado.
Segundo o The Christian Post, em agosto de 2023, bairros cristãos foram atacados em Jaranwala, Faisalabad, após a disseminação de uma acusação falsa contra dois irmãos.
O Paquistão ficou em oitavo lugar na Lista Mundial de Observação de 2025 da organização Portas Abertas, que classifica os países onde a perseguição aos cristãos é mais intensa.