Cerca de 45 cristãos pertencentes a 10 famílias foram expulsos de suas casas no vilarejo de Durandarbha, localizado na região do distrito de Sukma, no estado de Chhattisgarh, na Índia, após uma série de ataques promovidos por moradores que seguem religiões tribais locais.
Os ataques ocorreram em abril, segundo relatos das famílias que buscaram abrigo inicialmente em colinas e florestas próximas, passando a noite ao relento, até encontrarem refúgio em uma igreja no povoado de Chintalnar, a aproximadamente 17 quilômetros de distância. Os agressores, armados com bastões e varas de bambu, agrediram fisicamente os cristãos e os ameaçaram de morte, exigindo que renunciassem à fé em Jesus Cristo como condição para permanecerem na aldeia.
De acordo com relatos locais, duas mulheres foram enviadas de volta ao vilarejo para verificar se seria possível retornar, mas voltaram aterrorizadas. “Renunciem a Jesus Cristo e só então poderão entrar na aldeia”, disseram os moradores, conforme relatado por Hirma Markam, um dos cristãos que presta assistência às famílias em Chintalnar.
No dia seguinte, em 25 de abril, um incêndio destruiu a casa de Mediyam Lakhma, um dos cristãos que haviam fugido. Os responsáveis não foram identificados, mas Markam afirmou que “parece óbvio que foram os moradores”. Santosh Markam, outro voluntário, relatou que “as famílias tiveram que fugir para as colinas e algumas para a floresta com mulheres, crianças e idosos para escapar da fúria dos moradores e não retornaram para suas casas desde então”.
Segundo os relatos, os moradores também estabeleceram como condição para o retorno dos cristãos a conversão às crenças tribais. Diante disso, os deslocados permaneceram em áreas vizinhas, enfrentando dificuldades de acesso a alimentos e vivendo em condições precárias.
Um dos cristãos expulsos, Kunjam Bechem, afirmou que uma das famílias permaneceu na aldeia e foi submetida a prisão domiciliar por parte dos moradores, após um dos adultos e uma das crianças serem agredidos.
Emboscada e ataques
Em 24 de abril, os moradores convocaram 11 famílias para uma reunião. Ao comparecerem, os cristãos foram cercados por cerca de 60 moradores armados com pedaços de madeira. Durante o encontro, foram questionados insistentemente sobre sua fé e pressionados a renunciar a Cristo.
Bechem relatou que, diante da insistência, uma mulher cristã respondeu: “Estávamos morrendo em nossa doença, e vocês não se importavam com a nossa vida. Agora que Jesus nos curou e estamos vivendo com saúde, nossa condição e vida pacífica parecem incomodá-los, e vocês vêm questionar nossa fé.”
A discussão verbal rapidamente se transformou em agressões físicas. “Eles não demonstraram misericórdia com idosos, mulheres e crianças”, disse Hirma Markam. “O ataque foi implacável.”
Após os ataques, os moradores invadiram casas de cristãos e confiscaram Bíblias, documentos bancários, cartões de racionamento e o cartão Aadhaar, utilizado como documento de identidade na Índia. Em seguida, atearam fogo aos materiais recolhidos. “Juntaram tudo e queimaram”, relatou Padaam Hidma, que sustenta cinco dependentes.
Perseguidos, os cristãos fugiram em diferentes direções. “Todos nos dispersamos – alguns se abrigaram nas colinas e outros na floresta”, disse Bechem. “Só na manhã seguinte nos encontramos na aldeia de Chimli, a cerca de cinco quilômetros de Durandarbha, e seguimos em direção à nossa igreja em Chintalnar, a quinze quilômetros de Chimli, e nos reunimos.”
Queixa à polícia
Em 25 de abril, os cristãos registraram queixa na delegacia de Jagargunda, localizada a 13 quilômetros de Chintalnar. No dia seguinte, foram escoltados até um hospital público para exames médicos. Segundo Bechem, três crianças, nove mulheres e seis homens sofreram ferimentos graves.
No entanto, os cristãos afirmam não ter recebido uma cópia da queixa e não foram informados sobre eventuais acusações contra os agressores. Bechem relatou que a polícia recomendou que não retornassem imediatamente à aldeia e que aguardassem o desenrolar dos acontecimentos.
A polícia convocou alguns dos moradores envolvidos para prestar esclarecimentos e emitiu advertências verbais. Os cristãos também formalizaram a denúncia junto ao cartório, mas até 08 de maio, segundo Santosh Markam, nenhuma prisão havia sido realizada.
As famílias permanecem abrigadas em uma igreja improvisada. Hirma Markam informou ao Morning Star News que já havia chovido duas vezes e que o telhado de feno e toras apresentava vazamentos. “Tem sido muito difícil para os cristãos permanecerem secos e seguros em dias chuvosos a noite toda”, afirmou.
Contexto mais amplo
A Missão Portas Abertas classificou a Índia na 11ª posição da Lista Mundial da Perseguição 2025, que destaca os países onde os cristãos enfrentam maior hostilidade. Em 2013, o país ocupava a 31ª posição.
Organizações de direitos humanos apontam para o crescimento dos casos de perseguição desde que Narendra Modi assumiu o cargo de primeiro-ministro em maio de 2014. O governo é liderado pela Aliança Democrática Nacional, sob comando do partido nacionalista hindu Bharatiya Janata. Grupos de defesa alegam que o discurso das autoridades tem incentivado ações de extremistas contra minorias religiosas.