O governo interino sírio, liderado pelo presidente Ahmad al-Shara do grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), empossou neste sábado (29/06) a ativista cristã Hind Kabawat como ministra de Assuntos Sociais e Trabalho. É a primeira vez que uma mulher cristã ocupa um cargo ministerial na história da Síria.
A nomeação integra uma reforma administrativa que inclui 23 ministros de diferentes etnias e religiões, conforme anunciado em discurso por al-Shara: “Esta formação é uma declaração de nossa vontade conjunta de construir um novo Estado”.
Kabawat, conhecida por sua oposição ao regime deposto de Bashar al-Assad, participou do comitê de diálogo nacional que discutiu a transição após a queda do ditador em 2023.
O novo gabinete exclui representantes das Forças Democráticas Sírias (apoiadas pelos EUA e lideradas por curdos), sinalizando uma tentativa de alinhamento com demandas ocidentais por inclusão de minorias.
Analistas interpretam a medida como estratégia para flexibilizar sanções econômicas impostas à Síria desde 2011, que causaram perdas estimadas em US$ 21 bilhões ao PIB local, segundo o Banco Mundial.
Desafios
A comunidade cristã, que representa cerca de 10% da população da Síria (dados pré-guerra), enfrenta incertezas após a ascensão do HTS, grupo classificado como terrorista por ONU e UE. Em março de 2024, confrontos entre facções rivais mataram mais de 1.000 pessoas, incluindo civis cristãos.
A ONG Portas Abertas relatou em comunicado de 15 de junho que fiéis vivem “um misto de otimismo cauteloso e ceticismo”. Um cristão de Aleppo, que preferiu não ser identificado, declarou: “Sentimo-nos inseguros. Prometem proteção, mas tememos ser usados como moeda política para aprovação internacional”.
Objetivos
Al-Shara afirmou que a prioridade é “acabar com a guerra civil e implantar estabilidade”, em referência aos conflitos regionais persistentes desde 2011. O governo prevê iniciar em agosto um plano de reconstrução de infraestrutura, com foco em energia e saúde.
Enquanto isso, líderes oposicionistas realizam reuniões com representantes da Igreja Ortodoxa Síria. Em encontro no último dia 20/06, prometeram incluir cláusulas de proteção religiosa na futura constituição.
Kabawat não se manifestou publicamente desde a posse, mas em entrevista à BBC Árabe em 2022, defendeu “diálogo inter-religioso como base para a reconciliação nacional”. Já al-Shara enfrenta críticas de grupos de direitos humanos, que acusam o HTS de perseguições a dissidentes.
A UE mantém reservas sobre a transição: em nota de 30/06, o Alto Representante para Relações Exteriores, Josep Borrell, exigiu “garantias concretas de pluralismo” para revisar sanções. Com informações: The times of Israel