Durante a remoção de escombros na cidade de Maarat al-Numan, província de Idlib, na Síria, um empreiteiro encontrou um antigo cemitério cristão, datado de mais de 1.500 anos. A descoberta ocorreu em maio, sob os destroços de uma casa abandonada destruída durante os conflitos armados que atingem a região há mais de uma década.
As imagens captadas no local mostram túmulos do cemitério cristão adornados com cruzes, sepulturas antigas, ossos humanos e fragmentos de cerâmica e vidro. Segundo especialistas, os itens são evidências da presença cristã durante o período bizantino, que se estendeu entre os séculos IV e XV d.C.
Hassan al-Ismail, diretor de Antiguidades em Idlib, declarou que a região “está entre as mais ricas em história de toda a Síria”. Ele explicou: “Com base na presença da cruz e nas peças de cerâmica e vidro encontradas, este túmulo remonta à era bizantina”.
De acordo com al-Ismail, Idlib concentra cerca de um terço dos monumentos históricos da Síria, com 800 sítios arqueológicos registrados e a presença de uma cidade antiga. “Antigamente, muitos turistas estrangeiros vinham a Maarat só para ver as ruínas”, relatou, de acordo com a Fox News.
Destruição causada pela guerra
A guerra civil na Síria, iniciada em março de 2011, tem resultado em mais de 500 mil mortos e milhões de deslocados internos e refugiados, segundo dados das Nações Unidas. Em 2020, forças leais ao então presidente Bashar al-Assad retomaram o controle de Maarat al-Numan. Segundo moradores e organizações humanitárias, a ofensiva resultou em saques e destruição de residências.
Embora a descoberta arqueológica tenha sido acidental, moradores locais veem nela um possível ponto de virada. Ghiath Sheikh Diab, habitante da cidade, afirmou à Associated Press esperar que o atual governo, liderado pelo presidente Ahmed al-Sharaa, estabeleça um plano de compensação justa para os antigos proprietários do terreno.
Outro morador, Abed, destacou o potencial da descoberta para revitalizar o turismo na região, localizada a cerca de 80 quilômetros ao sul de Aleppo. Jaafar, que visitou os túmulos com o filho, declarou: “Antigamente, muitos turistas estrangeiros costumavam vir a Maarat só para ver as ruínas”. Ele acrescentou: “Precisamos cuidar das antiguidades, restaurá-las e devolvê-las ao que eram antes… e isso ajudará a recuperar o turismo e a economia”.
Achados similares
O Império Bizantino, também conhecido como Império Romano do Oriente, emergiu no século IV d.C. após a divisão do Império Romano, com capital em Constantinopla (atual Istambul), na encruzilhada entre Europa e Ásia. O cristianismo tornou-se a religião oficial do império sob o governo de Constantino e Teodósio, o que levou à construção de igrejas, mosteiros e cemitérios cristãos por toda a região.
Nos últimos anos, diversas descobertas do período bizantino têm sido registradas em outras partes do Oriente Médio e Europa. Em Israel, foi recentemente exposto ao público um mosaico cristão de 1.600 anos, também datado da era bizantina. No Reino Unido, um balde enigmático de 1.500 anos encontrado em um dos principais sítios históricos do país foi identificado como uma peça da mesma época, originária da antiga cidade de Antioquia, hoje situada no sul da Turquia.
Pesquisadores avaliam que o achado em Maarat al-Numan pode oferecer novas pistas sobre a presença cristã na Síria antiga, especialmente em áreas pouco exploradas por causa da instabilidade política. As autoridades locais não informaram ainda se o local será escavado oficialmente ou protegido por medidas legais.