Um levantamento global apontou mudanças significativas na composição religiosa mundial entre 2010 e 2020. O cristianismo continua sendo a religião com mais adeptos no mundo, somando 2,3 bilhões de pessoas, mas sua participação proporcional na população global caiu de 30,6% para 28,8%, uma redução de 1,8 ponto percentual, influenciada principalmente pela desfiliação religiosa nas Américas e na Europa.
Ao mesmo tempo, o islamismo foi a religião que mais cresceu no período, passando a representar 25,6% da população mundial. De acordo com o relatório do Pew Research Center, o crescimento está relacionado a altas taxas de natalidade e a uma população mais jovem entre os muçulmanos, cuja idade média em 2020 era de 24 anos, em comparação com 33 anos entre os não muçulmanos.
“É impressionante que tenha havido uma mudança tão drástica em um período de 10 anos”, afirmou Conrad Hackett, pesquisador do Pew Research Center e principal autor do estudo. “Durante esse período, as populações muçulmana e cristã se aproximaram em tamanho. Os muçulmanos cresceram mais rápido do que qualquer outra religião importante”.
Crescimento dos “sem religião”
O número de pessoas que não se identificam com nenhuma religião também cresceu consideravelmente, atingindo 24,2% da população mundial em 2020, ante 23,3% em 2010. O relatório destaca que essa expansão está diretamente relacionada à mudança de religião, especialmente entre ex-cristãos.
“Entre os jovens adultos, para cada pessoa no mundo que se torna cristã, há três pessoas que foram criadas como cristãs e que abandonam a fé”, observou Hackett.
Apesar de projeções anteriores indicarem uma possível queda no número de pessoas sem afiliação religiosa — devido ao envelhecimento dessa população e às baixas taxas de natalidade —, o levantamento revela que a desfiliação está superando essas expectativas, sobretudo em países ocidentais.
Entre as nações com os maiores contingentes de não filiados estão:
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China, com 1,3 bilhão de pessoas sem religião, dentro de uma população de 1,4 bilhão;
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Estados Unidos, com 101 milhões, entre 331,5 milhões de habitantes;
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Japão, com 73 milhões, em um total de 126,3 milhões.
Budismo em queda
O budismo foi a única religião que registrou uma queda no número total de adeptos, passando de 343 milhões em 2010 para 324 milhões em 2020. A redução é atribuída a baixas taxas de natalidade e à desfiliação religiosa em países historicamente budistas.
Em contraste, hindus e judeus mantiveram proporções estáveis em relação à população global ao longo da década analisada.
“Às vezes ouvimos rumores de renascimento religioso, e certamente é possível que em determinados lugares a religião possa crescer”, afirmou Hackett. “Mas neste estudo cuidadoso de 10 anos que realizamos, a tendência geral é que em muitos lugares as pessoas estão se afastando da religião”.
Perspectivas futuras
Segundo Hackett, os dados apontam para um processo de convergência entre o cristianismo e o islamismo. Se as tendências atuais forem mantidas, o islamismo poderá se tornar a religião com o maior número de adeptos no mundo nos próximos anos.
“O próximo passo do nosso trabalho em andamento neste projeto será fazer algumas projeções populacionais demográficas para fornecer novas estimativas de quando exatamente elas podem convergir”, afirmou, em entrevista ao The Washington Post.
O estudo foi baseado na análise de mais de 2.700 censos e pesquisas nacionais e internacionais, fornecendo um retrato detalhado da evolução das religiões no cenário global entre 2010 e 2020.