Desde a retomada do poder em agosto de 2021, os radicais islâmicos do Talibã reinstauraram leis baseadas na sharia, criminalizando condutas consideradas “imorais”, como deslocamento sem guardião masculino (mahram) ou interação com homens sem parentesco.
Dados da ONU e da Zan Times indicam que mais de 1.000 pessoas — incluindo ao menos 200 mulheres — foram submetidas a punições públicas, como chicoteamento e prisão arbitrária.
Casos documentados:
1. Deeba*: Costureira e mãe solteira
Idade: 38 anos | Profissão: Costureira | Punições: 25 chicotadas e duas prisões.
Deeba*, responsável por sete filhos, foi presa em 2022 após alugar uma máquina de costura de um homem sem parentesco. Acusada de “prostituição”, foi espancada e detida por quatro dias. Três meses depois, nova prisão ocorreu quando estava em uma lanchonete portando um celular — considerado “vício” pelo Talibã.
“Expulsaram o dono da lanchonete e o agrediram. Quando protestei, me prenderam por 20 dias. Dividi uma cela suja com 15 mulheres, sem comida adequada. No julgamento, sem advogado, fui condenada a 25 chicotadas em praça pública, com a cabeça coberta”, disse ela à Zan Times.
Diagnosticada com trauma, Deeba* depende de medicamentos para lidar com sequelas físicas e psicológicas.
2. Sahar*: Jovem acusada de “relacionamento ilícito”
Idade: 22 anos | Punições: 30 chicotadas e exílio forçado.
Em 2023, Sahar* foi detida ao viajar com um primo para uma clínica médica. O Talibã rejeitou o parentesco e os acusou de “adultério”. Forçada a confessar sob tortura, foi sentenciada a 30 chicotadas; o primo recebeu 70.
“Bateram no meu primo, quebraram nossos celulares e me ameaçaram: ‘Se gritar, te matamos’. No tribunal, mesmo com familiares confirmando nosso laço, fui obrigada a mentir. A humilhação nos expulsou de nossa aldeia”, disse ela ao The Guardian.
3. Karima*: Adolescente algemada e açoitada
Idade: 16 anos | Punições: 39 chicotadas e dois meses de prisão.
Em 2022, Karima* foi detida ao viajar com um primo para comprar materiais de costura. O Talibã rejeitou o guardião e os prendeu. Na cela, sofreu alucinações e ferimentos por algemas. Após 39 chicotadas, foi proibida de deixar o Afeganistão.
“Amarraram meus pulsos até sangrar. Na praça, chicotearam minha pele até ficar roxa. Depois, nos trancaram até os ferimentos cicatrizarem, para esconder a brutalidade”, disse a jovem à Zan Times.
Karima* fugiu para outra cidade após ostracismo social.
Padrões de perseguição:
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Prisões Arbitrárias: Mulheres são detidas sem acesso a defesa legal.
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Confissões Forçadas: Tortura e ameaças são usadas para extrair “admissões” de culpa.
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Punições Públicas: Açoitamentos ocorrem em praças, com testemunhas coagidas a assistir.
“Garantimos os direitos das mulheres dentro dos princípios islâmicos. Infratoras são julgadas conforme a sharia”, declarou o porta-voz dos radicais islâmicos, confirmando o extremismo religioso do grupo terrorista.
Organizações como Anistia Internacional e ONU Mulheres denunciaram a “institucionalização da tortura de gênero”. Em setembro de 2023, o Conselho de Direitos Humanos da ONU exigiu acesso a prisões afegãs, negado pelo Talibã.
Nota de Segurança:
Nomes foram alterados para proteger identidades. Fontes relataram ameaças de retaliação por compartilhar seus testemunhos. Fontes: The Guardian, Zan Times, relatórios da ONU (2022-2023).