O pastor cubano Alain Toledano Valiente, líder do Movimento Apostólico em Cuba, enfrenta obstáculos para retornar ao país e apoiar sua filha Susana, de 24 anos, diagnosticada com câncer após sua expulsão forçada há quatro anos.
Em 2020, Toledano recebeu ordem para deixar Cuba em 30 dias sob risco de prisão, acusado de liderar um grupo religioso não registrado. Sua esposa e duas filhas menores conseguiram asilo nos Estados Unidos, mas Susana e outra irmã adulta permaneceram na ilha.
Desde então, Toledano foi incluído em uma lista de proibição permanente de entrada emitida pelo Departamento de Segurança do Estado cubano. Em 2022, ele foi impedido de comparecer ao funeral de um familiar próximo.
Agora, com a saúde de Susana agravada pela escassez de médicos e insumos em Cuba, o pastor tenta viabilizar sua participação na cirurgia urgente da filha.
“É desumano negar a um pai o direito de estar ao lado de uma filha que luta pela vida”, declarou Anna Lee Stangl, diretora de advocacy da organização Christian Solidarity Worldwide (CSW), que acompanha o caso.
Contexto do exílio
O Movimento Apostólico em Cuba, rede de igrejas protestantes carismáticas, opera há uma década sem reconhecimento legal. O governo cubano alega que o grupo “viola normas de associação”, enquanto organizações internacionais denunciam perseguição sistemática, incluindo vigilância, ameaças e detenções de fiéis. Em 2019, tropas invadiram cultos e confiscaram bens de congregações ligadas ao movimento.
Stangl acusou as autoridades de “punir Toledano e sua família pelo ‘crime’ de praticar sua fé”. Em comunicado, a CSW exigiu que o presidente Miguel Díaz-Canel e o ministro do Interior, Lázaro Álvarez Casas, suspendam a proibição: “A separação forçada persiste mesmo em momentos de crise humanitária. Isso revela uma estratégia de controle sobre corpos e consciências”.
Cenário em Cuba
Susana aguarda cirurgia em meio a colapso no sistema de saúde cubano, que enfrenta falta crônica de medicamentos, equipamentos e profissionais — muitos migraram para outros países em busca de melhores condições.
Dados oficiais de 2023 indicam que mais de 4.000 médicos deixaram a ilha no último ano. Familiares de Susana temem que a demora no procedimento reduza suas chances de recuperação.
Toledano, radicado no Texas, segue mobilizando apoio jurídico e diplomático. “Minha fé me sustenta, mas o silêncio do governo é uma tortura”, relatou em entrevista a parceiros da CSW, segundo o Christian Today.
A Anistia Internacional incluiu seu caso em um relatório de 2023 sobre violações a liberdades religiosas em Cuba, onde pelo menos 15 líderes religiosos foram exilados ou detidos nos últimos cinco anos.
Até o fechamento desta reportagem, o governo cubano não respondeu aos pedidos de revisão da proibição. Enquanto isso, redes de solidariedade arrecadam fundos para transferir Susana a um hospital fora do país, alternativa complexa devido a restrições migratórias cubanas. Para Stangl, “a negação do reencontro familiar é uma forma de violência de Estado”.