As plataformas de apostas online, popularmente chamadas de “bets”, tornaram-se alvo de debates no Brasil devido ao aumento de relatos de endividamento, especialmente entre famílias de baixa renda.
Dados da pesquisa PoderData, de outubro de 2024, indicam que 29% dos apostadores são evangélicos, sendo que 21% desse grupo declararam ter contraído dívidas por causa das apostas. Em agosto do mesmo ano, cerca de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões nesses sites, segundo registros oficiais.
CPI das Bets
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, instalada em 2024, analisa o papel de influenciadores na promoção de jogos de azar, com foco em possíveis irregularidades em contratos publicitários.
A relatora, senadora Soraya Thronicke (União-MS), citou um estudo que aponta queda nas vendas de supermercados devido ao comprometimento da renda das famílias. A CPI também alerta que 35% dos jovens interessados em ensino superior não ingressam em faculdades por gastos excessivos com apostas, conforme dados do Banco Mundial.
Na terça-feira (13), a influenciadora Virgínia Fonseca, com mais de 50 milhões de seguidores, depôs na CPI. Questionada sobre os impactos negativos das apostas, respondeu: “Não me arrependo de nada do que já fiz na minha vida”.
Sua postura e vestimenta casual durante o testemunho geraram críticas. Teo Hayashi, pastor da Zion Church, afirmou no Instagram que “a aparência ‘comum’ foi estratégia para criar identificação com o público”.
Líderes religiosos
Teo Hayashi criticou a lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023, que regulamentou as apostas. “Esses sites não deveriam existir. Enquanto as plataformas lucram, os jogadores empobrecem”, declarou.
O pastor citou 1 Timóteo 6:9: “Os que querem ficar ricos caem em tentação […] o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. Hayashi também exortou jovens a “desenvolver pensamento crítico e não serem massa de manobra”.
Kenner Terra, pastor da Igreja Batista de Água Branca, rebateu a justificativa de Virgínia sobre “justiça de Deus” para legitimar seu lucro. “Promover jogos de azar é alimentar a desgraça alheia. A verdadeira justiça divina protege os frágeis, não explora”, escreveu no Instagram, referindo-se ao Salmo 82.
Contexto nacional
O Brasil é o país com maior volume de apostas online globais, segundo o Banco Mundial. A CPI investiga ainda se influenciadores lucram com as perdas dos usuários, prática considerada “eticamente questionável” por especialistas.
Enquanto isso, líderes religiosos pressionam por maior regulação, argumentando que a liberalização das bets aprofunda desigualdades.
O governo ainda não se pronunciou sobre revisões na legislação. Enquanto a CPI segue coletando depoimentos, o debate público destaca a tensão entre liberdade econômica, proteção social e ética religiosa.