O teólogo britânico e estudioso do Novo Testamento, NT Wright, afirmou que o suicídio não deve ser considerado um “pecado imperdoável” que exclui uma pessoa da salvação. A declaração foi feita durante um episódio recente do podcast Ask NT Wright Anything.
No podcast, apresentado por Justin Brierley, foram discutidas perguntas relacionadas à fé cristã e à dor causada pela perda. A discussão teve início após Brierley ler uma pergunta enviada por um ouvinte que leciona educação religiosa para crianças de 11 a 12 anos.
O ouvinte Andrew Mason relatou ter sido questionado por uma aluna: “Você vai para o céu se cometer suicídio e for um cristão renascido?”. Outra pergunta levantada na mesma ocasião foi: “Por que Deus permite que as pessoas cometam suicídio?”
Wright, ex-bispo de Durham na Igreja da Inglaterra, classificou as perguntas como “extremamente trágicas” e mencionou que situações semelhantes já haviam afetado sua própria família. “Aconteceu uma vez na minha família, na minha memória, e ainda me lembro do choque”, disse. “Sei onde eu estava quando recebi o telefonema”.
Ao tratar da primeira pergunta — “Por que Deus permite isso?” —, Wright explicou que essa indagação faz parte de um questionamento maior sobre a presença do mal e do sofrimento no mundo. “Por que Deus permite que pessoas morram em acidentes de carro?”, questionou.
“O mundo de Deus é um lugar muito mais estranho e sombrio. E não é que Deus esteja manipulando as pessoas e obrigando-as a fazer certas coisas, garantindo que não cheguem a lugares perigosos”.
Ele acrescentou que, em vez de controlar todos os aspectos da existência humana, Deus deseja que as pessoas se tornem responsáveis por suas ações: “Deus quer que sejamos adultos e responsáveis, e que assumamos a responsabilidade por quem somos e pelo que fazemos”, afirmou. “E às vezes acontecem coisas extraordinárias, desagradáveis, para as quais não há uma explicação óbvia”.
Ao abordar a pergunta sobre se um cristão que morre por suicídio estaria com Deus após a morte, Wright contestou a visão tradicional de que a alma simplesmente “vai para o céu”. “A formulação disso implica que o objetivo do cristianismo é que a alma vá para o céu, enquanto no Novo Testamento… o objetivo, na verdade, é que Deus venha e esteja com seu povo nos novos céus e na nova terra”, tergiversou.
Ele sugeriu uma reformulação da pergunta: “Essa pessoa estará na presença amorosa de Jesus, no poder do Espírito Santo, até o momento em que Deus fizer novos céus e nova terra e nos ressuscitar dos mortos?”
Wright afirmou que considerar o suicídio como um pecado imperdoável é uma forma de culpabilizar a vítima: “Virar-se e dizer: ‘Ah, isso foi muito perverso. Deus jamais perdoaria você por fazer isso’ é simplesmente culpar a vítima”, disse. “O que, como acho que aprendemos hoje em dia, é uma coisa muito ruim e cruel de se fazer”.
Ele reconheceu que há casos em que comportamentos autodestrutivos são adotados de maneira leviana, mas enfatizou que a maioria dos suicídios está relacionada a sofrimentos profundos: “Isso é o resultado de uma coisa muito séria, o que provavelmente poderíamos chamar de doença, de algum tipo de depressão, de ansiedade, de preocupação, de sentimento de fracasso”, afirmou.
Wright também apresentou uma visão teológica de consolo, citando o Salmo 139: “Se eu subir ao Céu, lá estás. Se eu descer ao Inferno, lá também estás”. Ele comentou: “Há pessoas que realmente parecem descer ao abismo, a um Hades pessoal, e, por favor, Deus, descobrirão que Deus também está lá — e em Jesus, que desceu ao Inferno”.
“Nesses casos, vejo os braços de Jesus envolvendo essa pessoa com amor, consolo e ternura. Jesus é capaz de recebê-la, resgatá-la, consolá-la, revigorá-la e, se ela pertence a Ele em primeiro lugar, então eu diria que pode ressuscitá-la dos mortos no momento em que todas as lágrimas forem enxugadas”.
Refletindo sobre a morte de Jesus, Wright mencionou o clamor de Cristo na cruz, conforme registrado no Salmo 22: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Segundo ele, esse sentimento é semelhante ao que muitos suicidas enfrentam. “Jesus na cruz e em Sua descida ao Inferno chegou ao ponto onde o suicídio termina para, então, se apegar a eles”, disse.
“Se eles O conheceram e O amaram, mesmo que parcialmente ou de forma confusa — e todos nós estamos confusos em maior ou menor grau —, então eu acho que Jesus, e no poder do Seu Espírito, cuidará de tal pessoa. E nós descobriremos, quando formos ressuscitados dos mortos para a nova criação, que ela estará conosco… no lugar onde não há mais lágrimas”, finalizou, segundo o The Christian Post.