Walt Heyer, de 84 anos, viveu como mulher trans durante oito anos antes de destransicionar há quatro décadas. Desde então, ele mantém um ministério e um site chamado Sex Change Regret (Arrependimento pela Mudança de Sexo, em tradução livre), onde auxiliou milhares de pessoas que expressam arrependimento após tentarem alterar seu gênero.
Heyer e a psicóloga Jennifer Bauwens, diretora do Centro de Estudos da Família no Family Research Council, concederam entrevista ao portal Fox News para divulgar o livro Embracing God’s Design, recém-lançado nos Estados Unidos. A obra trata da relação entre espiritualidade, saúde emocional e identidade de gênero, abordando o que os autores descrevem como uma “crise espiritual e psicológica por trás da identidade transgênero”.
O livro apresenta uma análise histórica de figuras influentes no movimento transgênero e argumenta que houve interferência de ativismo político em diretrizes diagnósticas e práticas clínicas nas últimas duas décadas. Os autores sustentam que compreender as causas da confusão de gênero é essencial para o cuidado adequado dos pacientes. Também são oferecidas orientações voltadas a amigos e familiares de pessoas que enfrentam conflitos relacionados à identidade de gênero.
Jennifer Bauwens, que já atuou como terapeuta e pesquisadora na área de traumas, afirmou que muitos indivíduos com experiências de confusão de gênero passaram por abusos, negligência ou outras adversidades durante a infância. Segundo ela, práticas terapêuticas atuais priorizam a afirmação da identidade de gênero, mas nem sempre lidam com traumas preexistentes.
“Quando você analisa os dados, cerca de metade daqueles que se identificam como transgêneros também relatam algum tipo de abuso, seja emocional, psicológico, físico ou sexual”, declarou Bauwens. Ela acrescentou: “Na verdade, não se trata apenas de negligência médica, é quase criminoso tratar alguém com um procedimento cirúrgico que claramente se enquadra no perfil de alguém que sofreu abuso grave”.
A autora também mencionou que comportamentos como automutilação e pensamentos suicidas são comuns entre pessoas com histórico de trauma. De acordo com sua avaliação, essas manifestações não seriam abordadas de forma eficaz por terapias que focam exclusivamente na transição de gênero.
Arrependimento
No relato de Heyer, as primeiras experiências relacionadas à identidade de gênero ocorreram ainda na infância. “Minha avó me travestia secretamente e ela me apoiava. Ela fez um vestido de festa roxo de chiffon para mim, e isso foi segredo por cerca de dois anos e meio”, contou. Quando os pais descobriram o vestido, iniciaram medidas disciplinares severas, segundo ele. Posteriormente, Heyer também sofreu abuso sexual por parte de um parente.
Durante a adolescência, Heyer passou a se identificar como mulher. Tornou-se alcoólatra aos 20 anos, após a morte do pai. Aos 40 anos, foi diagnosticado com disforia de gênero e passou por cirurgia de redesignação sexual, adotando por oito anos o nome de “Laura Jensen”.
Segundo seu relato, os profissionais que o acompanharam à época não consideraram adequadamente seu histórico de abusos. “O que era realmente o problema não era disforia de gênero”, afirmou.
Heyer declarou ter atendido milhares de pessoas ao longo das últimas duas décadas em seu ministério. “Quando trabalho com elas, sempre pergunto: o que fez vocês não gostarem de si mesmos?”, disse. “Quando nos aprofundamos nessa discussão, eles exploram as questões, e nós olhamos para trás e descobrimos que elas sofreram abuso sexual, emocional e físico. Elas foram abandonadas. Elas estavam em lares adotivos.”
Segundo ele, “aconteceu algo que os fez não gostarem de quem são. Nem é uma questão de gênero. É por isso que Jennifer se referiu a isso como uma questão de identidade”.
Heyer atribui a restauração de sua vida à fé cristã e ao acompanhamento de conselheiros cristãos. Ele mencionou que esse processo o ajudou a superar o vício e as dificuldades relacionadas à identidade.
Os autores também expressaram uma visão espiritual sobre os debates contemporâneos em torno da identidade de gênero. “O movimento de gênero não se trata apenas de apagar o masculino ou o feminino”, afirmou Bauwens. “Trata-se, na verdade, de apagar a própria imagem de Deus e da família”.
Ela argumentou que aspectos da masculinidade e da feminilidade são parte do projeto divino inscrito na criação humana, e que, ao tentar suprimir tais características, compromete-se a compreensão da identidade pessoal e do sentido da vida. “Quando você apaga o próprio desígnio de Deus, em uma geração, ou tenta fazer isso, ficamos com pessoas sem identidade, sem rumo”, declarou.
Bauwens encerrou dizendo: “Há muito mais em jogo na batalha que estamos enfrentando. E é realmente uma boa luta de fé que estamos abraçando aqui”.