O cheiro de queimada ainda paira sobre a comunidade Agan, na periferia de Makurdi, Nigéria. Na última semana de maio, extremistas Fulani atacaram a aldeia em plena luz do dia — a menos de 500 metros de um quartel militar, assassinando mais de 80 cristãos.
“Nenhum soldado veio”, denuncia Sebastine Hon, Advogado Sênior da Nigéria. Seu relato à presidência expõe um padrão: enquanto 85 cristãos eram mortos em ataques coordenados em Benue, forças de segurança assistiam a tudo de forma passiva.
Anatomia do ataque
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1º de junho: 43 mortos em ataques simultâneos aos condados de Gwer West e Apa;
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Semana anterior: 42 assassinatos em aldeias de Gwer West (dados do ICC);
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Epicentros: Guma, Logo, Agatu e Naka — esta última considerada “zona segura” até maio.
Os agressores agiam em comboios de motos, desafiando postos militares. “Como passam pelos checkpoints para atacar e retornar às bases?”, questiona Hon na carta ao presidente Bola Tinubu.
O silêncio das fardas
Casos emblemáticos ilustram a omissão das forças de segurança da Nigéria, reforçando críticas à omissão do governo diante da perseguição religiosa contra os cristãos. Aqui estão alguns exemplos:
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Solomon Atongo: Espancado a 500m de um posto militar em 24 de maio. Soldados só intervieram após os agressores irem embora;
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Paróquias católicas: 15 fechadas em Benue, com padres acusando militares de cumplicidade;
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Carta ignorada: Hon já alertara chefes das Forças Armadas em maio — sem resposta.
Benue integra o “Cinturão Médio” nigeriano, palco de conflitos por terra entre agricultores cristãos e pastores Fulani muçulmanos; 10.217 mortes violentas desde maio de 2023 (dados da sociedade civil); 6.896 assassinatos só neste estado — 67,5% do total nacional.
“Chamem pelo nome: é genocídio”, declarou Caleb Mutfwang, governador do vizinho estado de Plateau, onde 2.630 foram mortos.
Nas escolas de Apa, crianças dormem sobre bancos escolares. São parte dos milhares de deslocados que enfrentam escassez de água potável, doenças em acampamentos superlotados e colheitas destruídas, agravando fome.
Apelo desesperado
Na carta ao presidente do país, Bola Tinubu, Hon exige: “Declare estado de emergência militar em Benue antes que mais sangue banhe nossa terra”.
O governo, porém, ainda não se pronunciou. Enquanto isso, na estrada entre Makurdi e Naka, postos militares permanecem intocados — como testemunhas mudas do próximo ataque. Com informações: Morning Star News