No sábado, 24 de maio, ataques de radicais fulani armados atingiram três comunidades na região de Karim Lamido, no estado de Taraba, nordeste da Nigéria, resultando na morte de ao menos 42 pessoas, segundo relatos de moradores e autoridades locais. As comunidades afetadas foram identificadas como Munga Dosso, Munga Lelau e Bandawa.
De acordo com informações prestadas por residentes ao portal Morning Star News, os ataques foram realizados por indivíduos identificados como pastores fulani. “Meu povo na Área de Governo Local de Karim Lamido, que é majoritariamente cristão, foi atacado por pastores fulani. Nossas casas foram queimadas e mais de 42 cristãos foram mortos”, afirmou Miriam Silas, residente local.
O governador do estado de Taraba, Kefas Agbu, condenou os ataques e declarou que os agressores seriam responsabilizados. “A segurança dos nossos cidadãos é minha maior prioridade. Ativamos todas as medidas de segurança necessárias para evitar mais violência e responsabilizar os responsáveis”, declarou o governador por meio de nota oficial. Em outra declaração, Agbu descreveu os atos como “horríveis e inaceitáveis”.
Moradores também relataram a destruição de residências e o deslocamento forçado de centenas de pessoas: “Um ataque devastador dos fulani em três comunidades tirou a vida de 42 cristãos e forçou centenas de outros a fugirem de suas casas na manhã de sábado”, disse Obadiah Abbawa, residente da região. Outro morador, Zion Chaffi, afirmou: “A área de Karim Lamido está sendo atacada por pastores fulani. Orem pela intervenção de Deus por nós”.
O Dr. Tijo Kenneth Mingeh, cristão e morador da área, declarou que o ataque causou “dor e perturbação indescritíveis a muitas vidas”. Segundo ele, as comunidades foram profundamente impactadas pelo ocorrido.
Em resposta ao ataque, o porta-voz do Comando Estadual da Polícia de Taraba, James Leshen, informou que forças de segurança foram destacadas para as localidades atingidas.
Grupo étnico e religioso
Os fulani são um grupo étnico predominantemente muçulmano, presente em diversos países da África Ocidental, incluindo a Nigéria. Estima-se que milhões de fulani vivam na região do Sahel, organizados em diferentes clãs e com origens diversas.
Embora a maior parte da população fulani não esteja envolvida com ações extremistas, parte dos ataques recentes tem sido atribuída a segmentos radicalizados do grupo. Um relatório de 2020 do Grupo Parlamentar Multipartidário do Reino Unido para a Liberdade Religiosa ou de Crença (APPG, na sigla em inglês) aponta que algumas dessas facções seguem estratégias semelhantes às adotadas por grupos como o Boko Haram e o Estado Islâmico na Província da África Ocidental (ISWAP).
“Eles adotam uma estratégia comparada à do Boko Haram e do Estado Islâmico na Província da África Ocidental (ISWAP) e demonstram uma clara intenção de atingir cristãos e símbolos poderosos da identidade cristã”, afirma o relatório.
Segundo líderes cristãos na Nigéria, os ataques recorrentes a comunidades localizadas no Cinturão Médio do país estariam relacionados a conflitos fundiários e religiosos. A escassez de terras e o avanço da desertificação teriam intensificado os confrontos entre criadores de gado e agricultores. De acordo com esses líderes, milícias extremistas fulani têm atacado comunidades agrícolas majoritariamente cristãs, especialmente na região centro-norte da Nigéria.
Perseguição religiosa
A Nigéria figura na 7ª posição da Lista Mundial da Perseguição 2025, divulgada pela organização cristã Portas Abertas, que monitora a liberdade religiosa em diversos países. O relatório aponta que, entre os 4.476 cristãos mortos em razão de sua fé no período analisado, 3.100 foram assassinados na Nigéria, o que representa cerca de 69% do total mundial.
“O nível de violência anticristã no país já está no máximo possível segundo a metodologia da Lista Mundial de Perseguição”, conclui o relatório da entidade.