Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Barna em maio revelou que 18% dos pastores protestantes seniores nos Estados Unidos afirmaram ter pensado em automutilação ou suicídio no último ano. A sondagem foi realizada no contexto do Mês de Conscientização sobre Saúde Mental e indica que quase metade dos pastores (47%) relatou sentir-se solitário ou isolado em sua rotina ministerial.
Joe Jensen, ex-pastor e atualmente vice-presidente sênior do Barna, comentou os resultados em entrevista ao Crosswalk Headlines. “É uma estatística alarmante e preocupante”, afirmou. Para Jensen, os dados reforçam a necessidade de oferecer apoio cotidiano aos líderes religiosos, frequentemente afetados por uma “epidemia de solidão que se esconde atrás do púlpito”.
Apesar da gravidade do quadro, Jensen observou que a maioria dos entrevistados descreveu esses pensamentos como passageiros ou episódios isolados. Ainda assim, ele destacou que a pesquisa evidencia “uma necessidade profunda que muitas vezes passa despercebida”.
Segundo Jensen, é comum que os membros da igreja não percebam que seus pastores se sentem sozinhos. “Embora os membros se inspirem constantemente no pastor, o próprio pastor muitas vezes não tem uma fonte de apoio”, explicou.
Ele acrescentou que a natureza do ministério contribui para o isolamento: “Acreditamos que, só por estarmos perto das pessoas, estamos nos conectando com elas. Mas muitos pastores não se beneficiam da comunidade que pastoreiam”. Jensen também apontou que a função pastoral costuma estar associada a grandes expectativas: “Pastores são humanos e passam pelas mesmas dificuldades que todos. Porém, sentem que devem estar sempre no controle, com a vida em ordem, e isso os leva ao recuo”, afirmou.
De acordo com Jensen, essa realidade é agravada pela necessidade de manter uma imagem de estabilidade diante da congregação: “Na manhã de domingo, os pastores projetam que ‘estão todos juntos’. Mas é uma espiral descendente viciosa que leva muitos a querer desistir do ministério e, em casos extremos, da própria vida”, disse.
Para Jensen, é necessária uma mudança profunda na forma como o sucesso ministerial é definido: “As expectativas atuais incentivam a busca por expressões externas de sucesso, às vezes às custas da saúde interior da alma”, declarou. Ele defendeu que a liderança das igrejas deve assumir responsabilidade pelo bem-estar dos pastores. “Presbíteros e conselhos precisam pensar: como podemos liderar nossos pastores rumo a uma saúde mais holística?”, questionou.
Jensen também sugeriu que os orçamentos das igrejas deem prioridade ao cuidado com o ministério pastoral. “Investimos em programas, evangelismo, ações de extensão — todas essas coisas são importantes, mas não funcionam se o pastor não estiver saudável. É um investimento”, observou.
Ao comentar as soluções possíveis, Jensen ressaltou que o aconselhamento cristão é útil, mas não suficiente. Ele enfatizou a importância da conexão entre pastores. “Não vou me abrir com a congregação sobre minhas lutas mais profundas, mas sei que há pastores próximos que entendem o que estou passando”, afirmou. “Podemos nos reunir com colegas de ministério, tomar um café e encontrar apoio mútuo — porque eles também estão passando por isso”.
A pesquisa do Instituto Barna reforça um cenário de vulnerabilidade emocional entre líderes religiosos e levanta o debate sobre o cuidado com aqueles que conduzem comunidades de fé.