A transição de liderança em comunidades cristãs é considerada uma das etapas mais sensíveis e estratégicas para a saúde espiritual e institucional das igrejas. À medida que pastores encerram seus ciclos ministeriais, surge a necessidade de conduzir o processo de sucessão de forma equilibrada, respeitosa e coerente com os princípios bíblicos e a realidade da congregação.
Em entrevista, o pastor Joarês Mendes de Freitas, emérito da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória (ES), afirmou que o tema exige transparência e participação ativa da membresia. “Historicamente, formava-se uma comissão que definia critérios, colhia indicações, filtrava os nomes e levava à assembleia. Hoje, é cada vez mais comum o antigo pastor indicar diretamente um sucessor, mas esse modelo ainda enfrenta resistências, inclusive éticas”, explicou.
A fala de Freitas aponta para uma mudança nas práticas adotadas por igrejas históricas e pentecostais. Segundo ele, o modelo tradicional de sucessão envolvia maior pluralidade no processo de escolha: “Se a maioria dos membros tem até 35 anos, talvez seja pertinente considerar um pastor mais jovem. Representatividade etária na comissão favorece o diálogo com todos os grupos”, acrescentou.
O pastor defendeu ainda que o processo de sucessão deve ser amplamente divulgado, com espaço para sugestões da membresia e atualização constante sobre o andamento dos trabalhos: “Essa transparência torna a sucessão mais autêntica e fortalece o envolvimento da igreja em oração e discernimento. Pregações e palestras sobre o tema ajudam a preparar o coração dos membros para o novo momento”, declarou.
Embora o planejamento seja importante, Freitas reconhece que o êxito da transição só pode ser avaliado a longo prazo. “Já vi igrejas que, seis meses após a posse, perceberam ter cometido um erro. Em outros casos, o novo pastor foi reconhecido como enviado por Deus e serviu por décadas. Por isso, é fundamental conhecer profundamente o candidato antes do convite.”
O pastor Lucas Alves, secretário ministerial da Igreja Adventista do Sétimo Dia para oito países da América do Sul, destacou a centralidade do chamado pastoral na formação de lideranças. “Sem o chamado, o ministério corre o risco de se tornar técnico, e a igreja pode perder sua identidade e propósito. Um bom gestor pode administrar, mas só um pastor, com coração espiritual, alimenta e cuida do rebanho com sensibilidade”, afirmou, na entrevista à revista Comunhão.
Alves enfatizou a necessidade de ancorar o processo de sucessão na Bíblia e na dependência do Espírito Santo. “Mesmo com metas e planejamento, jamais podemos negligenciar a unção e os frutos espirituais. Se o Espírito Santo não for o líder da igreja, nos tornamos apenas uma organização sem direção”.
Para ele, a cultura de discipulado também é essencial no fortalecimento da igreja em contextos de mudança. “Discipulado não é modismo, é mandamento. Mudanças são necessárias, mas precisam de oração, base bíblica e avaliação contínua. É fundamental manter o foco no crescimento genuíno das pessoas”.
Segundo os pastores ouvidos, uma sucessão pastoral bem conduzida não apenas assegura a continuidade do trabalho, mas pode gerar reavivamento e renovação na comunidade. Diante das transformações culturais e sociais dos últimos anos, a preparação de novos líderes com visão espiritual e compromisso com a missão cristã é vista como prioridade para que as igrejas avancem com saúde e firmeza.