Nos últimos anos, o uso das redes sociais como ferramenta de evangelização tem se intensificado entre jovens cristãos na Europa. Em um episódio recente do podcast da Revive, o pastor John Hofwijks e o evangelista Rob Veenstra abordaram o impacto do TikTok na evangelização da juventude na Holanda, destacando o que descreveram como um “avivamento” em curso.
Conhecidos por seus movimentos evangelísticos em Amsterdã, os líderes citaram casos concretos de jovens impactados pelas redes. Um dos exemplos mencionados foi o da influenciadora digital Widia Soraya, que abandonou práticas da Nova Era para seguir a fé cristã. Seu testemunho de conversão, compartilhado no TikTok, alcançou grande repercussão.
“Ela me disse que havia sido atacada por demônios através de portas abertas em sua vida. Mas, o que ela compartilha agora é radical, real e esperançoso. E os jovens estão se juntando em massa”, relatou Rob Veenstra no episódio.
Após a conversão, Widia foi batizada e passou a influenciar outros jovens. “Isso causa uma boa impressão. Quando alguém como ela segue Jesus, muitos seguidores pensam: ‘Este não é o Jesus do passado. Ele é real’”, comentou o pastor John Hofwijks.
Cultos cheios e nova sede
Segundo Hofwijks, os cultos organizados aos sábados têm atraído um público crescente. “Tivemos que procurar um novo prédio. Muitas pessoas vão até lá e 80% delas vêm pelas redes sociais”, afirmou. Ele ressaltou que a atual geração é atraída por conteúdo curto, impactante e honesto, características que, segundo ele, definem o conteúdo que mais engaja os jovens nas plataformas digitais.
“Tenho visto gerações surgirem e desaparecerem. Mas o que está acontecendo agora é diferente. Os jovens não querem apenas ouvir sobre Jesus, eles querem viver com Ele. Estão dispostos a abrir mão de tudo”, acrescentou.
Música cristã e viralização
Outro exemplo citado foi o de um músico cristão que começou a cantar espontaneamente o louvor “Em nome de Jesus nós vencemos” durante uma gravação nas ruas. A canção viralizou. “Isso se tornou um sucesso nas redes sociais, em festivais e até em pubs. Quando ‘Em nome de Jesus nós vencemos’ é cantado por toda a Holanda, isso se tornou o gospel na linguagem das ruas de hoje”, afirmou Rob Veenstra.
Avivamento digital
Para os líderes, o cenário atual foi precedido por um período de preparação. “O coronavírus nos preparou. Todos tiveram que recorrer à internet. E agora os jovens estão usando esse cenário digital para descobrir Jesus”, disse Hofwijks. Rob complementou: “Eles não querem mais superficialidade. Buscam autenticidade, conexão, respostas. E encontram isso em Jesus”.
Apesar do entusiasmo, ambos alertaram para os desafios: “Nem tudo o que é dito no TikTok sobre Jesus é bíblico. Precisamos ajudar os jovens a aprender a Palavra de Deus. É ótimo que eles estejam conhecendo Jesus, mas o discipulado é o próximo passo”, reforçaram.
Estilo de vida cristão e novos públicos
O fenômeno observado na Holanda se repete em outras partes do mundo, inclusive no Brasil. De acordo com reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo em 2024, há uma crescente produção de conteúdo devocional por influenciadores cristãos no TikTok e Instagram. Entre os temas abordados estão “Como ler a Bíblia”, “Como orar”, “Como fazer um devocional” e “Arrume-se comigo para a igreja”.
Esses vídeos têm atraído milhões de visualizações, ultrapassando as fronteiras das comunidades cristãs e alcançando públicos diversos. No TikTok, a hashtag #CristãoNoTikTok já acumula mais de 2 milhões de vídeos. Outras etiquetas populares incluem #Devocional, com 890 mil publicações, e #JovemCristão, com cerca de 870 mil.
A maior parte do público pertence à Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010), mas também há crescimento entre a Geração Alpha (nascidos após 2010).
Fatores psicológicos e sociais
Para o psicanalista Lucas Liedke, pesquisador de cultura e comportamento, o sucesso desse tipo de conteúdo está relacionado às necessidades emocionais dos adolescentes. “O aspecto de crise é inerente à condição de ser adolescente, que se intensifica ainda mais com os tempos que vivemos. As religiões, de muitas formas, ajudam a lidar com esse desamparo existencial”, afirmou Liedke ao Estadão. Segundo ele, após a pandemia da Covid-19, as novas gerações passaram a buscar segurança, estabilidade e sentido, e encontram isso na fé cristã.
‘Não queremos guerras culturais’
A evangelista Christine Caine, que trabalha com jovens em diversos países, também identificou essa demanda por uma espiritualidade mais profunda. “Há um desespero. Uma sensação de ‘Nosso mundo está fora de controle’ e precisamos de algo maior do que nós mesmos para intervir nisso. Não queremos religião, não queremos guerras culturais. Queremos um encontro radical com um Deus vivo que fará a diferença na minha vida cotidiana”, afirmou ela em uma conferência internacional em 2023.
A busca por um relacionamento direto com Deus, aliado ao uso de plataformas digitais, tem reformulado a forma como muitos jovens se aproximam da fé cristã. Para pastores como John Hofwijks, trata-se de um momento singular: “Não estamos apenas vendo visualizações. Estamos vendo vidas transformadas”.