Na província de Takeo, sul do Camboja, cerca de 200 pessoas reuniram-se em abril de 2023 sob uma mangueira centenária no complexo do templo budista de Wat Ang Chagn, enquanto jovens monges, vestindo tradicionais túnicas cor de açafrão, observavam discretamente dos dormitórios.
O cenário ilustrou um dos princípios da Cambodia Christian Ministries (CCM), organização liderada pelo missionário Mike Meierhofer: estabelecer pontes entre fé cristã e comunidades locais em um país onde 93% da população de 17 milhões professa o budismo, segundo dados do Departamento de Assuntos Religiosos do Camboja.
A estratégia de evangelização, adotada há 14 anos pela CCM, inclui ações sociais como distribuição de alimentos e assistência médica, realizadas em parceria com autoridades governamentais. “Sem essa cooperação, seria impossível ganhar espaço para compartilhar o Evangelho”, explicou Meierhofer, presidente da entidade e membro da Igreja de Cristo de Walnut Hill, no Texas (EUA).
Interação
Durante o evento, Meierhofer, segurando uma Bíblia em uma das mãos, dirigiu-se a um público formado por cristãos, budistas e muçulmanos — grupo que representa cerca de 2% da população cambojana, de acordo com o Pew Research Center (2021).
“Agradecemos a Deus por todos estarem aqui. Muitos budistas pensam: ‘Não devo ir, pois não sou cristão’. Mas Jesus ama budistas, muçulmanos e deseja que todos venham a Ele”, declarou o missionário, que realiza trabalhos no país desde 2009.
Não foi a primeira vez que discursos cristãos ecoaram em espaços budistas. Em 2010, Meierhofer já havia pregado próximo ao pagode de Wat Phnom, em Phnom Penh, capital do país, para uma multidão de 300 pessoas.
A prática reflete uma abordagem consolidada: “O Camboja é um campo missionário único. Não impomos, mas convidamos”, afirmou, em referência ao método de integração cultural adotado pela CCM.
Contexto e desafios
A presença cristã no Camboja remonta ao século XIX, mas ganhou força após a queda do Khmer Vermelho (1979), regime que perseguiu religiões. Hoje, cristãos são aproximadamente 2,4% da população, segundo o Relatório de Liberdade Religiosa Internacional (2022).
Para organizações como a CCM, o desafio permanece equilibrar evangelização e respeito às tradições locais — equilíbrio que Meierhofer define como “servir sem segregar”.
A missão de abril incluiu a doação de 500 kits de higiene e consultas médicas gratuitas, realizadas em conjunto com médicos cambojanos. “Quando ajudamos nas necessidades práticas, construímos confiança”, destacou Sok Vanny, enfermeira budista que participou da iniciativa.
Enquanto isso, sob a mesma mangueira, o diálogo entre cores religiosas segue aberto. “Nosso chamado é amar, não converter”, resumiu Meierhofer, ao final do encontro. Com informações: Religion Unplugged
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