O Colégio Cardinalício da Igreja Católica se reunirá na próxima quarta-feira (07 de maio) na Capela Sistina, no Vaticano, para iniciar o conclave que elegerá o novo papa. A votação acontece após a morte do papa Francisco, que faleceu na semana passada aos 88 anos e foi sepultado no fim de semana.
Segundo as regras do conclave, um candidato precisa obter o apoio de dois terços dos cardeais presentes para ser eleito. A escolha do novo pontífice pode ter impacto direto em temas sensíveis da sociedade como também em assuntos enfrentados pelo catolicismo, como a ordenação de mulheres como diáconos, a comunhão para católicos divorciados e recasados, o uso de contraceptivos e a celebração da Missa Tradicional em Latim.
Entre os nomes mencionados como possíveis sucessores estão os cardeais Luis Antonio Tagle, Matteo Zuppi, Robert Sarah e Pietro Parolin. A seguir, o perfil de cada um deles:
Luis Antonio Tagle
Cardeal filipino e ex-prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, Luis Antonio Tagle foi mencionado como possível papa no conclave de 2013. É considerado próximo de Francisco e identificado como “relativamente progressista”, segundo o teólogo Michael Schmalz.
Tagle participou de uma comissão vaticana que estudou o papel histórico das diaconisas, mas não se pronunciou publicamente sobre o tema. Em relação às bênçãos para casais do mesmo sexo, ele condenou o uso de “palavras duras” contra católicos LGBT, sem declarar apoio ou oposição às bênçãos em si.
Sobre o celibato sacerdotal, afirmou: “Alguns o consideram o culpado por todos os tipos de má conduta sexual. Outros a defendem, mas de forma legalista e ineficaz”. Defendeu uma abordagem serena e abrangente.
Tagle sugeriu que a valorização da Missa Tradicional em Latim pode refletir um apego a um passado idealizado e indicou que a doutrina sobre contracepção deve receber tratamento mais pastoral. Ao tratar da situação de católicos divorciados e recasados, declarou: “Cada situação é bastante única” e questionou se a proibição automática da comunhão a essas pessoas seria eficaz.
Matteo Zuppi
Atual arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi, de 69 anos, foi nomeado cardeal por Francisco em 2019. Assim como Tagle, é visto como próximo do falecido pontífice e alinhado a posições mais progressistas.
Zuppi manifestou-se contrário à ordenação de mulheres como diáconos, mas apoiou a concessão de bênçãos a casais do mesmo sexo, elogiando um documento vaticano de 2023 por sua abordagem pastoral. Permitiu que uma bênção similar ocorresse em sua arquidiocese mais de um ano antes da publicação do texto.
Sobre o celibato sacerdotal, afirmou que se trata de uma disciplina passível de mudança e citou os padres casados nas igrejas orientais em comunhão com Roma como exemplo.
Embora tenha celebrado a Missa Tradicional em Latim, apoiou as restrições determinadas por Francisco, destacando que “devem ser aplicadas com responsabilidade”. Defendeu ainda que o ensino da Igreja sobre contracepção pode ser aprofundado com “fidelidade criativa”.
Robert Sarah
Cardeal guineano, Robert Sarah foi prefeito da Congregação para o Culto Divino entre 2014 e 2021 e é considerado um dos principais representantes da ala conservadora. Foi nomeado cardeal por Bento XVI em 2010. Aos 79 anos, é o mais velho entre os candidatos mencionados.
Schmalz o descreve como favorito entre católicos conservadores nos EUA e Europa Ocidental e o compara a um “papa parecido com Trump”.
Em pronunciamento na Universidade Católica da América, Sarah criticou figuras públicas católicas que apoiam o aborto legal, como o então presidente Joe Biden. No Vaticano, em 2015, classificou o islamismo radical e o liberalismo ocidental como “duas ameaças inesperadas”, comparando-as a “feras do Apocalipse”.
Sarah considera ideologias ligadas à homossexualidade, aborto e teoria de gênero como manifestações de origem demoníaca. Condenou a autorização de Francisco para bênçãos a casais do mesmo sexo, classificando-a como “heresia”, e rejeita qualquer flexibilização do celibato sacerdotal. É defensor da Missa Tradicional em Latim e se opôs às restrições impostas por Francisco.
Pietro Parolin
Italiano e atual Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin é visto como figura central na diplomacia vaticana. Foi nomeado cardeal por Francisco em 2014 e é considerado um possível nome de consenso.
Parolin defende posições tradicionalistas em algumas áreas. Chamou a ordenação de mulheres de questão “inegociável” e, em 2015, classificou a aprovação do casamento homoafetivo na Irlanda como “derrota para a humanidade”.
Em discurso na ONU, defendeu a compreensão da sexualidade baseada na identidade biológica e criticou a inclusão de termos como “saúde sexual e reprodutiva” por seu potencial vínculo com o aborto.
Entretanto, Parolin também declarou que o celibato sacerdotal “não é dogma” e que a Igreja poderia avaliar mudanças. Também expressou apoio à comunhão para católicos divorciados e recasados. Acredita-se que teve papel relevante na elaboração da Traditionis Custodes, documento que restringe a celebração da Missa em Latim.
Perspectivas para o futuro pontificado
O futuro papa terá de lidar com tensões internas entre alas progressistas e conservadoras, bem como responder a pressões externas sobre temas sociais, culturais e pastorais. A eleição no conclave deve refletir esses embates, com o perfil do escolhido indicando a direção da Igreja nos próximos anos, conforme informado pelo The Christian Post.