A morte do papa Francisco vai obrigar o Vaticano a realizar um novo conclave, que será conduzido pelo cardeal Kevin Farrell, atual camerlengo da Santa Sé, responsável por coordenar os ritos fúnebres e o processo de transição papal.
Conforme a tradição católica, a morte de um papa é seguida por um período de luto de nove dias, conhecido como novemdiales. O funeral deve ocorrer entre o quarto e o sexto dia após o falecimento. Durante esse período, o corpo do pontífice é velado na Basílica de São Pedro, onde fiéis podem prestar homenagens.
O cardeal Kevin Farrell, de origem irlandesa, é o responsável por organizar tanto o funeral quanto o Conclave, assembleia dos cardeais que elege o novo papa. O procedimento remonta à Idade Média e segue regras estabelecidas pela constituição apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada por João Paulo II em 1996 e atualizada por Bento XVI e Francisco.
O colégio de cardeais é composto atualmente por 252 membros, mas apenas os que têm menos de 80 anos têm direito a voto. No momento, há 138 cardeais eleitores aptos a participar do Conclave, número que excede o limite usual de 120 estabelecido como orientação, mas que pode ser superado por decisão do papa em exercício — como ocorreu em dezembro de 2024, quando Francisco nomeou 21 novos cardeais.
O Conclave deve começar entre o 15º e o 20º dia após a morte do papa. Antes disso, os cardeais se reúnem em congregações gerais para discutir os rumos da Igreja. No primeiro dia oficial do Conclave, é celebrada uma missa na Basílica de São Pedro. Em seguida, os cardeais se dirigem à Capela Sistina, onde recebem a ordem “extra omnes” — expressão em latim que significa “todos fora” —, marcando o início do isolamento obrigatório.
Durante o Conclave, os cardeais ficam isolados do mundo exterior. Não têm acesso a meios de comunicação, como televisão, rádio ou internet, e não podem manter contato com pessoas de fora. Apenas profissionais autorizados, como médicos, confessores e equipe de apoio, podem entrar em seus aposentos. Todos os envolvidos prestam juramento de sigilo absoluto.
As votações ocorrem até quatro vezes ao dia: duas pela manhã e duas à tarde. Caso não haja consenso nos dois primeiros dias, o terceiro é dedicado à oração e reflexão. Cada cardeal escreve o nome de seu candidato numa cédula com a inscrição “Eligio in Summum Pontificem” — “Eu elejo como Sumo Pontífice”. Para garantir o anonimato, é proibido utilizar caligrafia pessoal.
A eleição exige a aprovação de dois terços dos votos. As cédulas são queimadas após cada rodada de votação. A fumaça resultante, que sai pela chaminé da Capela Sistina, indica o andamento do processo: preta, quando não há decisão; branca, quando um novo papa é escolhido.
Após o resultado favorável, o decano do Colégio Cardinalício pergunta ao eleito: “Você aceita sua eleição canônica como Sumo Pontífice?”. Com a aceitação, o novo papa escolhe um nome, veste os trajes papais e recebe a obediência dos demais cardeais.
O anúncio oficial é feito na sacada central da Basílica de São Pedro, com a tradicional fórmula “Habemus Papam” — “Temos um papa”. O novo pontífice então aparece para saudar os fiéis e concede a bênção “urbi et orbi”, dirigida à cidade de Roma e ao mundo inteiro.
Por fim, os registros de cada votação são entregues ao novo papa, lacrados e depositados nos arquivos secretos do Vaticano, onde só podem ser consultados mediante autorização expressa do próprio pontífice.
O processo, embora marcado pelo rigor e sigilo, representa uma das transições de liderança mais simbólicas e observadas no cenário religioso global, de acordo com informações da BBC.