A possibilidade de vida fora da Terra, além do sistema solar, ganhou novos contornos esta semana, após cientistas detectarem impressões químicas inusitadas na atmosfera do exoplaneta K2-18 b, utilizando o telescópio espacial James Webb.
De acordo com a análise, foram encontrados traços de dois gases — dimetil sulfeto (DMS) e dissulfeto de dimetila (DMDS) — que, na Terra, são produzidos exclusivamente por processos biológicos, sobretudo por fitoplâncton marinho.
A descoberta, que ainda é tratada com cautela pela comunidade científica, provocou reações também em meio a estudiosos e líderes cristãos, que analisam a notícia sob a ótica bíblica.
O cientista Marcos Eberlin, pós-doutor pela Purdue University, nos Estados Unidos, afirmou que, embora o universo tenha sido criado para manifestar a glória de Deus, conforme ensina o livro de Isaías, a Terra foi especialmente preparada para a vida:
“Lemos em Isaías que os céus manifestam a glória de Deus, então, o universo é feito para manifestar a glória de Deus, mas a Terra nos foi dada de presente”, declarou.
Eberlin frisou ainda: “A Bíblia deixa muito claro que a vida na Terra já é sobrenatural. O planeta Terra é único, há milhares de condições únicas que só a Terra possui. Então, esperar que tenha vida em outro planeta por processos naturais, é impossível, não há nenhuma indicação segura”.
O pastor José Ernesto, líder da Igreja Presbiteriana Água Viva, em Vitória-ES, e articulista da revista Comunhão, compartilha visão semelhante. Comparando a recente descoberta com uma analogia, afirmou: “É como se pegássemos uma pequena concha na praia e, com base nessa concha, montássemos toda uma teoria de como é todo o oceano”.
Em seu entendimento, tais conclusões são construídas a partir de suposições baseadas em evidências limitadas. Ele citou o Salmo 8:3-4 para embasar sua reflexão: “Quando olho para o céu, que tu criaste, para a lua e para as estrelas, que puseste nos seus lugares — que é um simples ser humano para que penses nele? Que é um ser mortal para que te preocupes com ele?”.
Para o pastor Ernesto, a resposta bíblica é clara: “Vem sempre uma dúvida: será que estamos sozinhos neste imenso universo? A resposta é sim!”.
José Ernesto também salientou que a Bíblia enfatiza a centralidade do ser humano no plano divino: “Deus resolveu fazer da maneira que está revelado na Bíblia. Apenas o verdadeiro evangelho mostra um Deus querendo resgatar o homem. Discutir se existe vida em outro planeta é desviar o foco da dependência e dos planos de Deus para a humanidade”, avaliou.
Enquanto a astrobiologia internacional celebra a descoberta com entusiasmo, embora com prudência — uma vez que anúncios anteriores de “sinais de vida” não se confirmaram —, no meio cristão, o tema é abordado com outras ponderações.
O pastor e professor acadêmico Geraldo Moyses Gazolli Junior, mestre em Ciências da Religião e doutorando em Teologia, ofereceu outra perspectiva. Em sua análise, a Bíblia sugere que há vida além da Terra, embora não necessariamente nos moldes populares de civilizações extraterrestres.
Ele destacou o texto de Apocalipse 12:10-12: “E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte. Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo”.
Comentando sobre o texto, Gazolli afirmou: “Na cultura antiga, o universo era conhecido como céu e irmãos nossos habitam o universo e celebram a queda de satanás pelo nosso bem. Isso torna a ideia de que um Deus criador segue trazendo vida em algum canto do universo, uma ideia maravilhosa”.
O debate, portanto, continua em aberto, com a ciência buscando respostas em atmosferas distantes e a fé cristã interpretando as descobertas à luz das Escrituras. Por ora, os sinais detectados no K2-18 b ainda carecem de confirmações mais robustas, mas já reacendem tanto a curiosidade científica quanto as reflexões teológicas sobre o lugar do ser humano no universo.