A recusa de uma jogadora de futebol em se ajoelhar apoiando o movimento Black Lives Matter durante a execução do Hino Nacional dos Estados Unidos foi retaliada pelo técnico com seu afastamento, e agora, a atleta decidiu processa-lo.
A jogadora Kiersten Hening afirmou que o treinador do Virginia Tech, seu clube, “a forçou a sair do time” depois que iniciou uma série de represálias contra ela. Tudo começou com sua recusa em se ajoelhar durante o Hino Nacional, em reverência à organização Black Lives Matter, que carrega princípios marxistas em sua atuação.
No processo, a jogadora afirmou que ajoelhar é um gesto “carregado de significado político, social, cultural e simbólico”, e que levando em consideração sua convicção pessoal de apoio à “justiça social”, ela “não apoia a organização Black Lives Matter”.
“Ela discorda de suas táticas e dos princípios fundamentais de sua declaração de missão, incluindo desapropriação de fundos para a polícia e eliminação da família nuclear”, diz o texto da ação.
Nos Estados Unidos, o apoio ao Black Lives Matter sofreu significativo abalo quando veio a público um trecho do manifesto do movimento, em que seus criadores diziam acreditar que o rompimento da “estrutura da família nuclear prescrita pelo Ocidente” a partir dos valores judaico-cristãos era uma de suas missões.
O técnico do clube, Chugger Adair, teria iniciado uma “campanha de abuso e retaliação” contra a jogadora, segundo informações do portal Richmond Times-Dispatch a partir da ação judicial.
“A postura de [Kiersten] Hening foi cara – cara demais. O técnico dela não gosta dos pontos de vista políticos de Hening. Como ela se recusou a se ajoelhar, ele a colocou no banco, sujeitou-a a repetidos abusos verbais e a forçou a sair da equipe”, acrescenta o processo.
Até esse episódio, a jogadora era titular da equipe há três anos, e no dia seguinte à recusa de Kiersten em se ajoelhar, Adair foi pressionado por uma “contingência de jogadoras” a excluir do grupo que atletas “racistas”. O treinador chegou a repreender Kiersten, e depois a retirou do time titular na partida seguinte, mantendo-a fora também nos demais jogos.
Toda essa “campanha de abusos e retaliações do técnico tornou as condições para Hening tão intoleráveis que ela se sentiu obrigada a renunciar”, acrescenta o processo, que pontua que se ela “voltasse ao time sem uma ordem judicial”, a “retaliação ilegal do treinador continuaria”.
Na ação, Kiersten pede ao tribunal que Adair seja obrigado a reintegra-la na equipe e o “submeta ao treinamento da Primeira Emenda” da Constituição dos Estados Unidos, já que ela considera que o técnico violou seus direitos da Primeira e Décima Quarta Emenda.
“A Constituição dá a estudantes universitários como Hening ‘o direito de não sofrerem [tal] retaliação’ por sua expressão protegida”, diz o processo, citando uma opinião do Tribunal de Recursos do Quarto Circuito dos Estados Unidos: “Como resultado das ações de seu treinador, Hening não pode mais jogar o esporte que ama, apesar de ter mais dois anos de elegibilidade para a NCAA”, diz o texto, pontuando os prejuízos da jogadora.