Junia Joplin, um transexual que exercia o cargo de pastor em uma Igreja Batista, decidiu processar sua antiga congregação por tê-lo demitido depois que ele anunciou sua transição de gênero.
Joplin, que até então era tratado por seu nome de batismo, Justin, chegou à Igreja Batista de Lorne Park, em Mississauga, província de Ontário, Canadá, em 2014, casado e com dois filhos.
Em 2020, o então pastor veio a público durante um sermão e disse “quero que você me ouça quando digo que não devo ser apenas pastor, devo ser mulher” e acrescentou: “Oi amigos. Oi família. Meu nome é Junia. Você pode me chamar de June. Eu sou uma mulher trans e meu pronome é ‘ela’”.
Um mês depois, os fiéis fizeram uma votação e o demitiram da função por entender que os requisitos para o cargo não estavam mais sendo atendidos. Agora, Joplin está processando a congregação alegando discriminação.
Processo
Na ação, o ex-pastor alega que, embora tenha recebido apoio dos membros da congregação, a demissão simboliza um “processo injusto”.
Em resposta, a Igreja Batista de Lorne Park declarou que havia passado por um “processo de tentativa de discernir a vontade de Deus ” quando confrontada com a revelação de Joplin sobre sua identidade de gênero, um procedimento conduzido de “maneira cuidadosa e ponderada”.
“No final, a congregação votou para encerrar seu emprego como pastor principal da igreja, com a maioria dos votos para encerrar feitos por razões teológicas”, disse o presidente do conselho executivo da igreja, David Huctwith, em um comunicado.
Segundo informações da emissora CBC, os fiéis enfatizaram que a demissão veio acompanhada de uma “indenização justa”, mas o ex-pastor pede US$ 200 mil (mais de R$ 1 milhão na cotação atual) como reparação de danos.
Os advogados de Joplin afirmam ainda que sua demissão viola o Código de Direitos Humanos do Canadá, que proíbe a discriminação no emprego com base na identidade sexual ou de gênero.
Revide
Em uma entrevista recente, Joplin disse que agora sofre de “ansiedade”, uma experiência que nunca havia tido: “Esses foram meus primeiros passos para a transição social. É um lugar difícil de estar. Acho que qualquer pessoa trans dirá que pode ser assustadora, vulnerável. É uma época em que o apoio é tão essencial e, infelizmente, para muitos de nós não o obtemos em locais como o nosso local de trabalho”.
“Acho que uma das coisas mais difíceis para mim é saber que estou passando por uma das épocas mais difíceis e conseqüentes que jamais passarei na minha vida, e estou praticamente isolado da minha comunidade de fé, do lugar que eu mais naturalmente iria para obter apoio”, acrescentou o ex-pastor.
A postura de se apresentar como uma vítima da postura ortodoxa de sua antiga congregação é apenas uma faceta de como, além do processo, o ex-pastor quer contra-atacar: “Não quero que outras pessoas queer se conectem a comunidades de fé que realmente não as recebem de forma inequívoca, sem advertência ou qualificação”.
Nenhuma nação que professa proteger a liberdade religiosa – embora a reivindicação do Canadá a essas proteções certamente tenha sido questionada nos últimos anos – poderia defender a proibição de uma igreja demitir um pastor que eles não acreditam estar preparado para cumprir sua missão de pregar o Evangelho e ministrar à igreja.