O ex-deputado federal e principal estrategista do PT afirmou que o partido perdeu o contato com o povo e, hoje em dia, os evangélicos estão ocupando esse espaço de diálogo. As declarações de José Dirceu aconteceram durante a festa de 39 anos da legenda, em Brasília.
A festa, organizada no Sindicato dos Bancários, abriu espaço para um discurso de aproximadamente 10 minutos do “comandante”, que foi a primeira figura histórica do Partido dos Trabalhadores a fazer um ensaio de autocrítica em relação à atuação do partido nos últimos anos.
Dirceu admitiu que o PT perdeu nas urnas e nas ruas em 2018, e que a derrota para o “conservador, reacionário, fundamentalista” Jair Bolsonaro (PSL) aconteceu porque a legenda se distanciou do povo.
“Se nós não estamos do lado do povo, os evangélicos estão. E não podemos criticar os evangélicos. Nós fizemos política com os católicos, os bispos, as comunidades de base, as pastorais, nos anos 70, 80, 90…A classe trabalhadora da qual o PT é originário não existe mais. Fomos derrotados nas ruas e nas urnas. Temos base política e social forte, mas não temos o povo organizado”, afirmou Dirceu, de acordo com informações da revista Veja.
As declarações têm um tom bem diferente do adotado por Dirceu em 2012, quando afirmou que os evangélicos prestavam “um desserviço à democracia” por sustentaram uma visão “preconceituosa e repressiva”, e “patrulhar todas as políticas públicas com relação às questões do aborto e da homossexualidade”.
Em outro trecho de seu discurso na última segunda-feira, 11 de fevereiro, Dirceu afirmou que o momento não é mais apropriado para promover disputas internas no PT: “Agora é outro momento. O Lula está preso, a Dilma sofreu o impeachment e fomos derrotados numa eleição”, afirmou, indicando que o partido deverá se unir para tentar voltar ao poder em 2022.
Para Dirceu – condenado nos escândalos do mensalão e petrolão (este último com mais de 42 anos de pena a cumprir) – o pacote contra a corrupção e violência apresentado pelo ministro Sérgio Moro é uma “licença para matar” que se for aprovado, poderá levar o país à “Idade Média”.