O crescente uso de bebês reborn – bonecas hiper-realistas inspiradas em recém-nascidos – tem gerado reações que ultrapassam o âmbito do hobby e alcançam esferas legislativas e de saúde pública.
Dois projetos de lei em tramitação buscam regulamentar a prática: o PL 2320/2025 (Câmara dos Deputados) propõe coibir o uso dessas bonecas para obtenção fraudulenta de benefícios como prioridade em serviços públicos, enquanto o PL 5357/2025 (Alerj) sugere acompanhamento psicológico para usuários que desenvolvam dependência emocional.
Em entrevista ao Guiame, o psicólogo e teólogo Eliézer Caroliv, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, analisou o fenômeno. Inicialmente cético, ele passou a enxergá-lo como expressão de “arquétipos junguianos”, especialmente o materno:
“O realismo das bonecas permite projetar conteúdos psíquicos ligados à maternidade, numa sociedade que muitas vezes ridiculariza essa experiência”.
Caroliv destacou quatro motivações principais para o uso:
-
Conforto emocional: substituição simbólica em casos de luto perinatal ou infertilidade;
-
Expressão artística: valorização do detalhismo na confecção;
-
Simulação de cuidados: exercício do instinto materno/paterno sem responsabilidades reais;
-
Compensação social: resposta ao isolamento e fragilização de vínculos afetivos.
Riscos e Limites
O especialista alertou para sinais de problemas: quando o uso substitui relações humanas, dificulta o processamento do luto ou revela transtornos psiquiátricos pré-existentes (como TOC ou borderline). Citou casos extremos: “Mães que tentaram vacinar ou batizar bonecas indicam confusão entre realidade e fantasia”.
Posicionamento Cristão
Sobre a reação das igrejas, Caroliv recomendou equilíbrio: “Não há pecado em possuir a boneca, mas é preocupante quando distorce a realidade espiritual”. Criticou “anestésicos emocionais” como a negação da dor, defendendo que a cura exige “entrega a Deus combinada com acompanhamento profissional”. Citou João 8:32: “A verdade vos libertará”.
Expansão para Relacionamentos
Questionado sobre “reborn adultos” (utilizados como “companheiros românticos”), o psicólogo apontou riscos: “Podem aprofundar isolamento, criar expectativas irreais sobre relações humanas e objetificar pessoas”. Destacou relatos do Japão, onde robôs com IA simulam parceiros.
Paradoxo Social
Caroliv finalizou com uma reflexão: “A rejeição masculina ao fenômeno revela desconexão com funções nutridoras. Seria mais confortável uma mulher ter um reborn do que criar um bebê real sem apoio paterno?”. Dados do IBGE (2024) mostram que 37% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres solo.
Contexto:
-
Origem: Bonecas reborn surgiram nos EUA nos anos 1990;
-
Mercado: Peças artesanais custam entre R$ 800 e R$ 20 mil no Brasil;
-
Perfil: 78% dos usuários são mulheres acima de 40 anos (Estudo UFMG, 2023).
Fontes: Projetos de Lei 2320/2025 e 5357/2025; arquivos do Guiame; relatório Saúde Mental e Cultura Material (UFMG). Com: Guiame.