Com a guerra na Ucrânia entrando em seu terceiro ano, líderes da União Europeia alertaram que o continente deve se preparar para possíveis confrontos militares. Em março, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou: “Se a Europa quer evitar a guerra, a Europa deve se preparar para a guerra.”
O atual secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, ex-primeiro-ministro dos Países Baixos, reforçou a mensagem, pedindo que os europeus adotem uma “mentalidade de guerra”. Rutte advertiu que muitos países ainda não estão adequadamente preparados para uma ameaça direta da Rússia ou de outra potência.
Em resposta a esses alertas, o governo holandês recomendou aos cidadãos a montagem de um kit de emergência para 72 horas, incluindo suprimentos básicos e dinheiro em espécie, em caso de falhas nos sistemas digitais devido a ataques cibernéticos. Outras nações da UE seguiram com orientações semelhantes.
Diante deste cenário, líderes cristãos em diversos países da Europa têm se mobilizado para oferecer orientação pastoral, suporte prático e resiliência espiritual às suas comunidades.
Resposta teológica: “Haverá guerras e rumores de guerras”
Inspirado em Mateus 24:6, o CNE (Conselho Nacional de Evangelização) convocou líderes cristãos de toda a Europa a refletirem sobre o papel da igreja em tempos de incerteza. O Conselho de Igrejas Europeias (CEC), por sua vez, lançou a iniciativa Pathways to Peace, voltada à construção da paz na Ucrânia e à proteção de locais religiosos danificados.
Em um vídeo recente, o CEC questionou: “O que significa ser uma igreja em tempos de guerra?”, destacando ações concretas desenvolvidas na Ucrânia como parte do projeto.
Alemanha: “O medo é uma infecção do nosso tempo”
Na Alemanha, Frank Heinrich, ex-presidente da Aliança Evangélica e ex-deputado no Bundestag, reconhece o clima de insegurança. Ele afirmou: “O medo é uma infecção do nosso tempo. E o medo é algo que funciona muito bem”.
Heinrich lembrou a pandemia da Covid-19 como um momento em que o medo ultrapassou barreiras políticas, afetando também a vida das igrejas. Ele defende que, em tempos de crise, a igreja deve reforçar os valores do Evangelho, ajudando os mais vulneráveis e mantendo o foco no serviço ao próximo.
“Ajudar os mais fracos não é julgá-los, mas mostrar a vida de Jesus em nossas ações”, declarou o ex-pastor do Exército de Salvação. Para ele, essa é a essência da igreja.
Itália: “Queremos paz, mas não estamos envolvidos em mantê-la”
Na Itália, o teólogo e pastor Leonardo De Chirico, da igreja Breccia di Roma, observou que, embora o debate público aborde a possibilidade de guerra, não há sensação de ameaça imediata no país.
Ele afirmou: “Não estamos preparados para lidar com esse medo, pois não faz parte do nosso horizonte. Três gerações não passaram por uma guerra.”
De Chirico também apontou a resistência italiana ao aumento dos gastos militares, reflexo da derrota do país na Segunda Guerra Mundial. Ele afirmou que, em caso de conflito, os cristãos devem promover esperança e lembrar que a verdadeira segurança está além desta vida: “Sabemos que esta vida é passageira. A certeza que temos em Cristo é algo que tomamos como garantido”.
Suécia: preparação prática e espiritual
Na Suécia, o pastor Jonas Ahlforn von Beetzen, da Igreja da Suécia em Örebro, atua como instrutor da Agência de Defesa Sueca e é autor do livro “O livro de preparação do pastor preparador”. A obra, vendida em mais de 2 mil cópias, trata de sobrevivência prática e apoio espiritual em tempos de crise.
Desde 2013, após um ataque de simulação russo, von Beetzen ministra cursos sobre preparação para desastres. Com a guerra na Ucrânia em 2022, ele intensificou os treinamentos voltados a líderes cristãos.
“A igreja deve ser uma exceção à mentalidade individualista, promovendo a colaboração e a esperança”, disse. Ele alertou que, diante de uma crise, a resposta da igreja deve evitar a politização e buscar unidade: “A humanidade, em diferentes momentos, sempre esteve em guerra e continuará assim até o retorno de Cristo”.
Letônia: vigilância e apoio comunitário
Na Letônia, o pastor Martins Martinsons, da igreja Reformātu Pārdaugavas Draudze, em Riga, reconhece a possibilidade de conflito, embora a preocupação direta com a guerra ainda seja limitada entre os membros da congregação.
“Estamos prontos para reunir a congregação caso algo ruim aconteça”, afirmou. Segundo ele, as decisões pastorais são tomadas em conjunto, com ênfase na sustentação espiritual e ajuda material aos necessitados.
Martinsons relatou que sua igreja contribuiu ativamente com apoio à Ucrânia, incluindo envio de medicamentos, doações financeiras e capacetes para capelães na linha de frente.
De acordo com o CNE, ele enfatizou a importância de evitar a politização da crise: “Há espaço para desafiar aqueles que permanecem neutros. Precisamos ser graciosos. E todos somos irmãos e irmãs em Cristo”.