O ex-pastor pentecostal Walter Masocha, de 61 anos, foi considerado culpado pelo Tribunal Superior de Livingston, na Escócia, por múltiplos crimes sexuais cometidos contra duas mulheres entre janeiro de 2006 e julho de 2012, período em que liderava a Igreja Ágape para Todas as Nações. A decisão foi divulgada nesta semana, conforme reportado pelo jornal The UK Times.
Natural do Zimbábue e ex-professor de contabilidade da Universidade de Stirling, Masocha fundou o ministério em 2007 e autodenominava-se “arcebispo” e “profeta”. A igreja chegou a reunir mais de 2.000 seguidores no Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e países africanos. Segundo os autos, o ex-pastor utilizava sua posição de liderança espiritual para cometer abusos sob pretextos religiosos, em contextos privados e durante supostas “sessões de cura”.
Entre as acusações confirmadas pelo júri estão tentativa de estupro, agressão sexual e agressão indecente contra uma mulher e agressão indecente contra outra. O veredicto foi unânime em três das quatro acusações e majoritário na tentativa de estupro.
A primeira vítima, hoje com 39 anos, relatou que os abusos começaram quando ela tinha 20 anos e frequentava a igreja em Stirling. Ela afirmou que Masocha dizia que “Deus a havia entregue a ele” e que não precisava de um namorado. Durante sessões espirituais, afirmava estar “instruído por Deus a amá-la da maneira que ela desejasse ser amada”.
Segundo seu depoimento, o abuso evoluiu de beijos forçados e palmadas até a tentativa de estupro em seu quarto, quando ele abaixou suas roupas íntimas e tentou violentá-la. Ela contou que, embora tenha ficado paralisada no momento, conseguiu se desvencilhar e fugir.
Em outro episódio, relatou que ele segurou sua mão e a colocou sobre suas partes íntimas, por cima da roupa, dentro da mansão onde ele morava, em Sauchieburn — avaliada em 500 mil libras esterlinas. A residência também era usada para encontros religiosos privados, segundo a denúncia.
O marido da vítima confirmou ter confrontado Masocha, conforme tradição zimbabuense de exigir explicações de líderes mais velhos. Durante o encontro, o então pastor teria se prostrado no chão e dito: “Sinto muito por ter te amado demais”.
A segunda vítima, de 58 anos, relatou que procurou Masocha para pedir orações pela situação imigratória de seu marido. Segundo seu depoimento, ele afirmou que “Deus a havia dado a ele como um presente”, exigiu um beijo e apalpou suas partes íntimas alegando estar expulsando demônios. “Ele disse que era uma bênção”, afirmou.
Durante as alegações finais, o promotor Michael MacIntosh afirmou ao júri que Masocha “se aproveitava de mulheres que confiavam nele para orientação espiritual”. O réu, por sua vez, negou todas as acusações e alegou que as mulheres estavam mentindo.
A juíza Susan Craig ordenou sua imediata custódia e agendou a sentença para o dia 28 de julho. A magistrada afirmou que o comportamento do réu foi “terrível” e determinou a produção de relatórios sociais e uma avaliação de risco para considerar uma sentença estendida. Segundo ela, o nome de Masocha deverá permanecer indefinidamente no registro de criminosos sexuais, devido à gravidade e à duração dos abusos.
Apesar de não ter antecedentes criminais registrados no atual julgamento, foi revelado que Masocha havia sido condenado em 2015 por crimes similares envolvendo fiéis da mesma igreja. Na ocasião, ele foi responsabilizado por apalpar uma diaconisa e tocar uma estudante durante um suposto exorcismo. Recebeu como pena a prestação de serviços comunitários e foi incluído no registro de criminosos sexuais. Essa condenação, no entanto, foi posteriormente anulada por erro processual.
A Igreja Ágape para Todas as Nações foi fundada por Masocha com a proposta de oferecer uma visão internacional da fé cristã pentecostal. Durante anos, ele viveu um estilo de vida descrito nos autos como “jet set”, realizando viagens frequentes para ministrar em cultos no exterior. Entre os membros da igreja, era chamado de “apóstolo”, “profeta” e “homem de Deus”, de acordo com informações do The Christian Post.