
O crescimento evangélico no Brasil, que hoje representa 31% da população segundo o Datafolha (2020), é acompanhado por debates sobre superficialidade doutrinária e adaptações aos moldes da cultura contemporânea, o que para o pastor Matheus Alves envolve a inclusão de pregações com foco motivacional.
Matheus Alves, pastor e teólogo, integra críticos que apontam os riscos da diluição do Evangelho em meio a estratégias focadas em atrair fiéis, algo que termina por sacrificar a integralidade da mensagem bíblica, a qual é composta de amor, mas também de justiça.
Em seu livro “Jesus sem filtro: Desmascarando as bobagens que dizem por aí sobre o Filho de Deus”, lançado em outubro de 2024, Matheus Alves identifica quatro “filtros” que, segundo ele, deturpam a figura bíblica de Cristo:
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“Jesus de boa”: ênfase exclusiva em amor e perdão, omitindo exigências de santidade.
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“Jesus Influencer”: priorização de números de seguidores em vez de transformação espiritual.
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“Jesus destruidor de igreja e religião”: rejeição à congregação organizada, apesar da orientação bíblica para comunhão (Atos 2).
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“Jesus religioso”: redução de Cristo a um mero modelo moral, desvinculado de Sua divindade.
Com base nessa leitura, o pastor afirma que “o Evangelho está sendo pregado pela metade. Jesus é graça, mas também justiça. Não podemos ignorar que Ele exige mudança de vida, como Paulo ensinou: ‘Aquele que peca, não peque mais’.”
Em sua entrevista para o portal Guiame, Alves também criticou o crescimento numérico em parte das congregações: “A Igreja brasileira não está crescendo — está inchando. Inchaço não é saúde. Muitos são ‘convencidos’, não ‘convertidos’.”
“Há quem repudie a igreja institucional, mas Cristo a edificou (Mateus 16). Congregar é bíblico, mesmo com imperfeições humanas”, completou o autor.
Críticas
Matheus Alves destacou que o foco em “cultos-cheios” levou igrejas a substituir estudo bíblico por mensagens motivacionais:
“O domingo virou palco de entretenimento, não de doutrina. Pastores dão ‘pílulas’ para as pessoas ‘sobreviverem’ a mais uma semana, sem profundidade”. Citando João 6, lembrou que Jesus não amenizou Seus ensinos para reter multidões.
Soluções propostas:
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Retorno às Escrituras: “A Igreja primitiva (Atos 2) crescia em número e profundidade. Precisamos resgatar a prioridade da Palavra”.
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Discipulado efetivo: “Novos convertidos precisam de acompanhamento em pequenos grupos, não apenas cultos semanais. Discipulado é prática, não socialização”.
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Combate ao “Evangelho interesseiro”: “O apelo atual atrai quem busca emprego ou cura, não arrependimento. A mensagem verdadeira é: ‘Você é pecador, e só Cristo salva’”.
O pastor relatou que, apesar de criado em berço cristão, só experimentou “novo nascimento” em 2014, ao abandonar o “legalismo religioso”: “Era ímpio na igreja. Religiosidade faz obedecer por recompensa, não por amor”.
O livro está sendo distribuído nacionalmente, com eventos de lançamento em capitais. Alves defende que denominações revisitem modelos de discipulado e pregação integral, enquanto o debate sobre “superficialidade evangélica” ganha espaço em fóruns teológicos.
A obra reacende discussões sobre o equilíbrio entre relevância cultural e integridade doutrinária, tema que divide opiniões entre líderes religiosos no país.