O engajamento com a leitura bíblica aumentou pela primeira vez em quatro anos, segundo o relatório State of the Bible 2025, publicado pela Sociedade Bíblica Americana (ABS).
De acordo com os dados, cerca de 11 milhões de pessoas a mais estão lendo a Bíblia nos Estados Unidos, em comparação a 2024, com destaque para o crescimento entre homens, millennials e integrantes da geração X — públicos que historicamente demonstravam menor envolvimento com as Escrituras.
“Ficamos extremamente encorajados”, afirmou John Plake, diretor de inovação da ABS, ao Christian Daily International após apresentar os resultados na convenção da Evangelical Press Association, realizada em 5 de maio. “Ainda não é uma tendência, mas é um passo significativo na direção certa”.
O relatório, em sua 15ª edição, avalia anualmente a relação dos adultos americanos com a Bíblia, a igreja e a fé cristã. A coleta mais recente, feita em janeiro, mostra uma reversão parcial da queda registrada desde 2021, ano em que 50% dos adultos se declaravam “usuários da Bíblia” — definidos como aqueles que leem as Escrituras fora dos cultos ao menos três a quatro vezes ao ano. Em 2022, esse índice caiu para 40%, depois para 39% em 2023 e 38% em 2024. No início de 2025, o número voltou a subir para 41%.
Esse crescimento, segundo a ABS, foi mais acentuado entre os homens (alta de 21%), millennials (30%) e geração X (14%). Já entre mulheres e pessoas com mais idade, a taxa permaneceu estável. “Algo está acontecendo, principalmente entre os homens jovens adultos”, observou Plake. “E não era isso que esperávamos ver”.
Aumento em regiões historicamente seculares
O relatório também identificou crescimento no uso da Bíblia em regiões onde a prática religiosa costuma ser menor. No Nordeste dos EUA, o percentual de leitores subiu de 28% para 33% (aumento de 18%), e o mesmo ocorreu no Oeste do país. O Centro-Oeste teve um acréscimo de 15%. Já no Sul — tradicionalmente conhecido como o “Cinturão da Bíblia” — os números se mantiveram.
Na região da Baía de São Francisco, marcada por baixos índices de filiação religiosa, a pesquisa revelou maior engajamento entre os jovens. Enquanto apenas 19% dos moradores com 61 anos ou mais leem a Bíblia com regularidade, 40% dos millennials da região são usuários da Bíblia, acima da média nacional de 39%. Na geração Z, o índice foi de 37%, levemente superior à média nacional (36%).
“Essas descobertas desafiam a suposição de que lugares como a Área da Baía de São Francisco são desertos espirituais”, disse Plake. “Não é que as gerações mais jovens estejam fechadas às Escrituras — muitas vezes, são os mais velhos que estão mais desinteressados”.
Curiosidade espiritual
Embora evite conclusões definitivas, a ABS sugere que os números refletem mudanças culturais. Em outubro de 2024, o Wall Street Journal relatou um aumento de 22% nas vendas de Bíblias em relação ao ano anterior, com destaque para compradores de primeira viagem — especialmente jovens.
Plake destaca um grupo que chama de “meio móvel”: cerca de 71 milhões de americanos curiosos sobre a Bíblia, mas com dúvidas. “Precisam de alguém que os acompanhe, responda às suas perguntas e os ajude a descobrir a história maior das Escrituras”, explicou.
O relatório também aponta que quase metade dos cristãos não praticantes estão abertos a retomar o contato com a Bíblia. “Muitas vezes, lhes ensinaram histórias bíblicas como contos morais — Sansão, Jonas, Noé —, mas perderam a grande narrativa que aponta para Jesus”, disse Plake.
Atualmente, 52 milhões de americanos são considerados “engajados com a Bíblia” — ou seja, leem as Escrituras de forma regular e transformadora. No entanto, muitos não se sentem preparados para compartilhar sua fé: “Essas pessoas amam a Palavra de Deus, mas nem sempre sabem como defendê-la. Esse é o próximo desafio para igrejas e ministérios”, afirmou.
Panorama internacional
Além dos dados nacionais, o relatório de 2025 começou a comparar os resultados americanos com tendências globais. O Capítulo Dois incorpora informações do Estudo Mundial de Engajamento Bíblico PATMOS, divulgado em 30 de abril, fruto de uma parceria entre a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira e a Gallup. A pesquisa abrange 85 países e busca compreender como o engajamento bíblico se relaciona com identidade espiritual e bem-estar humano.
“Estamos vendo como os EUA se encaixam nesse ecossistema espiritual mais amplo”, explicou Plake. Segundo ele, outros capítulos do relatório abordarão temas como saúde mental, trauma e fé na esfera pública.
Aplicando os dados na missão
Plake ingressou na ABS em 2017 e combina experiência pastoral, pesquisa acadêmica e visão missionária. Ele afirma que seu objetivo é conectar o texto das Escrituras ao contexto da vida real. “Números não mudam vidas, mas nos ajudam a entender o mundo que estamos tentando alcançar”.
Ao comentar os próximos passos, Plake destacou que o momento é favorável. “Sim, menos pessoas estão lendo a Bíblia do que gostaríamos. Mas o fato de o número estar aumentando, especialmente entre aqueles que tradicionalmente se mantiveram afastados, significa que o terreno é mais fértil do que imaginamos”.
Por fim, ele dirigiu uma palavra à igreja global: “Embora o relatório se concentre nos Estados Unidos, suas implicações se estendem além das fronteiras. A fome espiritual entre jovens americanos pode refletir tendências em outros contextos. É por isso que essas comparações internacionais são tão importantes”.
A ABS segue investindo em tradução, acesso digital e colaboração entre sociedades bíblicas, visando alcançar mais pessoas com as Escrituras. “Queremos que as pessoas em todos os lugares encontrem Deus por meio de Sua Palavra”, concluiu Plake, de acordo com informações do The Christian Post.