O juiz Marcelo Bretas foi alvo de críticas por parte de um jornalista e usou o Twitter para comentar, de forma indireta, o artigo, citando um versículo bíblico como resposta.
Juan Arias, que escreve para a sucursal brasileira do jornal espanhol El País, de orientação política de esquerda, publicou um artigo criticando as manifestações públicas de fé do juiz carioca, responsável por julgar as ações da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro.
O jornalista associou as manifestações de admiração do presidente Jair Bolsonaro (PSL) pelo magistrado evangélico como um indício de que Bretas estaria interessado em entrar para a política no futuro.
“Bolsonaro abriu um novo caminho de paixão com o outro juiz mais famoso depois de Moro, Marcelo Bretas, juiz da Lava Jato do Rio, com fama de ser tão ou mais duro em suas condenações do que Moro”, escreveu Arias.
No artigo, Arias não esconde sua contrariedade com as manifestações de fé do juiz: “[Bretas] confessou que, como evangélico devoto, sua grande conselheira é a Bíblia, que ocupa um lugar especial em sua mesa de trabalho. O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, que chegou a ser imaginado por Lula como candidato à Presidência da República, foi condenado por Bretas a 216 anos de prisão”, ilustrou.
“Os dois sonhos de Bretas estão hoje nas mãos de Bolsonaro. O Presidente nesse primeiro mandato terá que mudar, de fato, dois ministros do Supremo, e já disse que gostaria de alguém ‘terrivelmente evangélico‘. Quem mais evangélico do que Bretas que não esconde que sua grande conselheira ao emitir sentenças é a Bíblia, sempre em cima de sua mesa de trabalho? E pelo modo como andam as relações entre o Presidente e seu ministro Moro, logo o ministério da Justiça poderia ficar livre. Que melhor momento para o sonho de Bretas de entrar na política?”, acrescentou Juan Arias.
A especulação feita pelo jornalista sobre a relação entre Bolsonaro e Moro estar deteriorada, no entanto, não resistiu aos fatos, uma vez que o artigo, publicado no último domingo, 22 de setembro, não poderia prever que o presidente elogiaria a atuação do ministro da Justiça e Segurança Pública para todo o planeta durante seu discurso na 74ª Assembleia Geral da ONU, na última terça-feira, 24.
Mais à frente, no mesmo artigo, Juan Arias faz confusões primárias e repudia quem se inspira nas Escrituras Sagradas do cristianismo como bússola moral: “Não é estranho que evangélicos como Bolsonaro, Moro e Bretas, para quem a Bíblia é vista principalmente sobre o prisma do Antigo Testamento em que tudo gira ao redor dos desígnios de um Deus vingativo, não vejam uma separação clara entre a Justiça e a Política”, especulou, novamente.
Em resposta ao jornalista, o juiz Bretas usou certa dose de ironia e, como faz frequentemente em suas publicações nas redes sociais e até em sentenças, reproduziu um versículo: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.” (Mateus 5, 10-11).
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.”
(Mateus 5, 10-11).https://t.co/p3kk4fqpqP via @elpais_brasil— Marcelo Bretas (@mcbretas) September 22, 2019