A Coreia do Norte é um dos países mais hostis aos cristãos, mantendo-se no topo da Lista Mundial da Perseguição (LMP) de 2025. Os cristãos vivem sua fé de maneira secreta e arriscada. Contudo, a realidade foi diferente no início do século XX.
Em 1907, Pyongyang, a capital, era conhecida como a “Jerusalém do Oriente” devido ao grande avivamento cristão que levou à construção de centenas de igrejas e à presença de missionários no país.
A história de perseguição começa com o domínio japonês na península coreana, que impôs práticas religiosas obrigatórias, incluindo a veneração ao imperador japonês. Após a Segunda Guerra Mundial e a derrota do Japão, a Coreia foi dividida, com a parte norte sob influência soviética, onde Kim Il-sung assumiu o poder em 1948 e implantou um regime comunista ateísta.
Durante a Guerra da Coreia (1950-1953), muitos cristãos fugiram. Após o fim do conflito, milhares foram mortos, presos ou exilados, enquanto os que permaneceram enfrentaram uma igreja clandestina. Antes da guerra, havia cerca de 500 mil cristãos na Coreia do Norte, mas dez anos depois, sua presença visível desapareceu.
Em entrevista para a revista Comunhão, Kim Sang-Hwa, pseudônimo utilizado por uma cristã que fugiu da Coreia do Norte, relatou como a fé transformou sua vida. Ela, que atualmente reside na Coreia do Sul, compartilhou sua experiência ao visitar o Brasil, a fim de alertar sobre a situação dos cristãos perseguidos no país.
Testemunho
A conversão dela, segundo Kim, mudou tudo: “Quando conhecemos Jesus, tudo muda. Não somos mais cidadãos de um país que não se relaciona com a fé, mas cidadãos do Reino dos Céus.”
Kim explicou que a liderança da Coreia do Norte no ranking da LMP não é surpresa. Após a fuga e o contato com outras culturas, ela observou que o sistema opressor do país mantém os cristãos em extrema perseguição.
A igreja na Coreia do Norte foi fechada, e os cristãos enfrentam uma vigilância constante. Igrejas visíveis são, na verdade, encenações para estrangeiros, enquanto a verdadeira igreja funciona secretamente em encontros informais, onde negócios de família são usados para o evangelismo.
A perseguição na Coreia do Norte não se limita à prisão e morte. “A verdadeira igreja é secreta. Se for descoberta, a punição é severa”, disse Kim. Os cristãos vivem em constante risco, muitas vezes sem saber da fé de seus próprios familiares. Kim compartilhou uma experiência pessoal: “Eu evangelizava meus amigos sem que eles soubessem que eu era cristã. Se descobertos, todos enfrentam prisão, trabalhos forçados ou morte.”
A tecnologia também é usada para controlar a população. O acesso à internet é restrito e monitorado, e equipamentos de vigilância são fornecidos pela China. Em relação à punição, ser encontrado com a fé cristã é considerado uma sentença de morte, e até mesmo os descendentes do “criminoso” cristão são punidos.
Resistência
Apesar das dificuldades, Kim relatou que a Igreja cresce na Coreia do Norte, com o apoio de organizações como Portas Abertas, que fornece treinamento e estratégias para sustentar a fé. “A graça de Deus é abundante”, afirmou. Ela enfatizou que a estratégia de evangelização é restrita e muitas vezes depende do contato pessoal e da cautela nas palavras e ações.
A evangelização de crianças e adolescentes, entretanto, é extremamente arriscada. Eles são incentivados a denunciar seus pais caso encontrem qualquer material religioso, e os cristãos enfrentam grande risco, pois podem ser mortos por essa delação.
Kim concluiu sua mensagem aos cristãos da Igreja Livre com um apelo à valorização da liberdade religiosa: “Aproveitem a liberdade para adorar e evangelizar. O fim está próximo e a perseguição global é uma realidade. Não tomem essa liberdade como garantida.”