Como o GospelMais já destacou a respeito do significado de perseguição religiosa sistêmica, no Brasil essa realidade não é diferente, podendo ser um exemplo recente disso uma denúncia apresentada ao Ministério Público da Bahia contra a cantora Cláudia Leitte, acusada de “racismo religioso”.
Conceito subjetivo que permite múltiplas interpretações, o “racismo religioso”, acusação que agora foi lançada contra Claudinha, também foi apontado contra pastores que pregaram contra as doutrinas das religiões de matriz afro, como o candomblé.
Mas, no caso de Cláudia Leitte, esta acusação feita pela Iyalorixá Jaciara Ribeiro e pelo Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro), foi por simplesmente substituir uma referência à Iemanjá por Yeshua, nome de Jesus, na música “Caranguejo”, cantada pela artista.
A letra original da música diz: “Joga flores no mar. Saudando a rainha Iemanjá”. Por ser evangélica, algo que já foi declarado publicamente nos veículos de imprensa, Claudinha passou a cantar assim: “Joga flores. Canto meu rei Yeshua”.
Por mais que a alteração da letra reflita a crença da própria cantora, algo devidamente amparado por sua liberdade religiosa e também artística, a artista está sendo acusada de “apropriação” e “racismo”, não apenas pelos acusadores já citados acima, como também pelo secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho.
“Quando um artista que se diz parte desse movimento, saúda o povo negro e a cultura, reverencia a percussão e musicalidade, faz sucesso e ganha dinheiro com isso, mas, de repente, escolhe reescrever a história e retirar o nome de Orixás das músicas, não se engane: o nome disso é racismo”, disse Tourinho, segundo a CNN Brasil.
O que o secretário de Cultura parece ter ignorado, contudo, foi que no passado, quando iniciou a sua carreira, Cláudia Leitte ainda não havia se convertido ao Evangelho de Jesus Cristo. Em 2023 ela falou sobre isso no programa Faustão na Band, declarando o seguinte:
“Eu sou cristã, sou crente, crente mesmo. Fui batizada nas águas em 2012, estou passando por um processo de transformação […]. Eu descobri que não é assim… Da noite para o dia você se tornou uma belíssima e brilhante criatura […]. A minha escolha de ser cristã foi de dentro para fora. Eu queria muito Jesus.”
Reação
Apesar das acusações contra Claudinha, quem resolveu sair em defesa da cantora foi o também cantor Carlinhos Brown, amigo da artista e adepto das religiões de matriz africana.
Ao destacar a fala de Carlinhos, o G1 lembrou também que Cláudia Leitte canta “Caranguejo” com a alteração da letra, substituindo Iemanjá por Jesus, desde 2014, refletindo justamente o período da sua mudança de vida religiosa.
“O Guetho é uma casa laica. Todas as pessoas têm direito a ter suas manifestações. (…) [A atitude de Claudia] É uma coisa que eu não queria estar falando porque é polêmica, e eu tenho uma espiritualidade muito acentuada. Mas eu posso te garantir que Claudia Leitte não é uma pessoa racista”, disse Carlinhos.
Até o fechamento dessa matéria, Cláudia Leitte não emitiu nenhum comunicado oficial a respeito das acusações.