No meio de hinos e Bíblias abertas, as cores de Flamengo, Corinthians e Vasco invadiram os templos. Em vídeos que viralizaram esta semana, jovens evangélicos aparecem vestidos com camisas de times de futebol em cultos temáticos batizados de “Culto das Torcidas” – iniciativa de igrejas que gerou tanto entusiasmo quanto controvérsia nas redes sociais.
Na Igreja de Irajá, Rio de Janeiro, o som de palmas e gritos de “gol!” ecoou entre os bancos durante o evento promovido pelo ministério Inove. A programação misturou louvor, pregação e até gincanas com provas esportivas.
“Era para ser um testemunho de união”, defendeu um líder, enquanto vídeos mostravam rapazes de camisas do Botafogo abraçando rivais palmeirenses. Mas a cena despertou críticas ferrenhas de setores conservadores, especialmente dentro das Assembleias de Deus, que questionaram a “mundanização” do culto.
A tensão chegou ao ponto de a igreja carioca limitar comentários em suas publicações. Na legenda, justificaram: “Vestimos a camisa do time do coração, mas nossa verdadeira torcida é para o time do Senhor!”. A mensagem destacava o propósito espiritual: “Deus nos chama para nos posicionarmos no mundo espiritual. Unidos, vencemos em Cristo!”.
No Espírito Santo, a Igreja Nova Vida de Vila Velha replicou a ideia com igual fervor. Jovens com bandeiras e pinturas faciais transformaram o púlpito numa arquibancada celestial – cenário que também dividiu opiniões.
Enquanto alguns acusavam “espetacularização da fé”, outros celebravam a criatividade evangelística. “Quantos garotos que nunca pisariam numa igreja vieram por causa do tema?”, questionou uma mãe nas redes, mostrando o filho de uniforme do Atlético-MG orando.
Entre os críticos, vozes argumentavam que o futebol – com sua história de violência e idolatria – não deveria misturar-se ao sagrado. Já os defensores lembravam que Paulo “fez-se tudo para todos” (1 Cor 9:22). “Se o apóstolo citava poetas pagãos para falar de Jesus, por que não usar a paixão pelo esporte como ponte?”, rebateu um pastor.
A polêmica envolvendo às igrejas expõe uma encruzilhada geracional: enquanto alguns veem o futebol como terreno sagrado para missão, outros temem que a linha entre o altar e o estádio se desfaça.
Mas nas fotos que circularam após os cultos, o que mais se via eram sorrisos largos – e camisas de times rivais lado a lado, dobradas no chão do santuário, enquanto as mãos se erguiam para o mesmo time. Com: Exibir Gospel.