O cantor Cory Asbury afirmou que “todos sabiam” sobre o histórico de má conduta do ex-vocalista dos Newsboys, Michael Tait, e declarou que muitos outros artistas do meio estão levando “vidas duplas”.
As declarações foram feitas após reportagens investigativas do The Roys Report e do jornal britânico The Guardian, publicadas no início de junho, que detalharam acusações graves contra Tait, hoje com 59 anos.
Segundo os relatos, vários homens, alguns menores de idade na época, alegam que Tait usou drogas e álcool para facilitar abusos sexuais. Um dos entrevistados afirmou ao The Guardian que tinha 13 anos quando o cantor supostamente se masturbou na sua frente em um banheiro público. Outros relataram ter sido drogados antes de sofrerem contato sexual indesejado.
Diante da repercussão, Michael Tait publicou uma declaração no Instagram em 10 de junho intitulada “Minha Confissão – 10 de junho de 2025”. No texto, reconheceu publicamente o abuso de substâncias e parte dos comportamentos descritos nas reportagens.
“Relatos recentes sobre meu comportamento imprudente e destrutivo, incluindo abuso de drogas e álcool e atividade sexual, são, infelizmente, em grande parte verdadeiros”, escreveu o cantor. “Por cerca de duas décadas, usei e abusei de cocaína, consumi muito álcool e, às vezes, toquei homens de forma sensual indesejada”.
Tait afirmou ainda: “Quero pedir desculpas a todos que magoei. Sinto muito mesmo.” Contudo, a declaração não mencionou diretamente as acusações que envolvem menores de idade nem respondeu a detalhes sobre agressões sexuais específicas. Ele também confirmou que havia deixado os Newsboys em janeiro deste ano e completado seis semanas de reabilitação em Utah.
Em resposta às notícias, Cory Asbury, 39, conhecido pela canção Ousado Amor, comentou em suas redes sociais. Quando questionado se sabia das alegações antes da publicação dos relatórios, respondeu: “Todos sabiam. Talvez não os detalhes específicos, mas todos sabiam”.
Em outra interação, um seguidor perguntou quantos artistas do meio cristão estariam vivendo “uma vida dupla” como Tait ou a banda NEEDTOBREATHE. Asbury respondeu: “Muitos”. Ele tem usado plataformas como o TikTok para criticar o que considera problemas sistêmicos na indústria da música gospel nos EUA, conhecida como CCM.
As declarações de Asbury repercutiram após serem compartilhadas pelo apologista cristão Mike Winger na rede social X. “Talvez a razão pela qual Michael Tait tenha conseguido escapar impune por tanto tempo seja porque muitas outras pessoas em seu setor também estão conseguindo”, escreveu Winger. “E isso resulta em uma cultura em que expor qualquer pessoa é visto como uma ameaça a todos.”
Tait ganhou notoriedade nos anos 1990 como um dos fundadores da banda DC Talk, vencedora do Grammy. Em 2009, ele passou a integrar os Newsboys, permanecendo na formação até janeiro de 2025. Sua saída coincidiu com a viralização de um vídeo que especulava sobre sua sexualidade, embora a banda só tenha comentado publicamente após a divulgação das investigações jornalísticas, de acordo com informações do portal The Christian Post.
Em nota, os Newsboys afirmaram ter sido surpreendidos pelas acusações. “Quando ele deixou a banda em janeiro, Michael confessou para nós e para o nosso empresário que ‘estava vivendo uma vida dupla’. Mas nunca imaginamos que pudesse ser tão ruim”.
Emissoras cristãs como a K-LOVE retiraram as músicas de Tait da programação. Diversas figuras públicas reagiram ao caso, incluindo Hayley Williams, vocalista da banda Paramore. Em publicação no Instagram, ela afirmou ter crescido em meio à indústria da música cristã e condenou o que descreveu como um “encobrimento sistêmico”.
“A quantidade de coisas que tenho a dizer e a quantidade de pessoas que conheço que provavelmente foram mudadas para sempre por esse homem e pela indústria que o capacitou…”, escreveu Williams. “Eu cresci em meio a isso. Não tenho medo de nenhuma dessas pessoas — a maioria delas já me descartou de qualquer maneira”.
Em tom crítico, acrescentou: “Quantas histórias como essa, vindas deste canto MUITO pequeno da indústria musical, ouviremos antes de percebermos que [capitalizar] a fé e a vulnerabilidade das pessoas é o ‘pecado’?”
Por fim, concluiu: “Espero que a indústria do CCM desmorone. E f— todos vocês que sabiam e não fizeram porcaria nenhuma. Aposto que entendi. E, a propósito, se vocês também não estão com raiva, talvez seja hora de questionar o porquê”.